Há 2.263 anos, teve fim a primeira Guerra Púnica, entre a República Romana e Cartago. Roma saiu vitoriosa e mais duas Guerras Púnicas se seguiram, terminando com a dominação romana sobre o Mar Mediterrâneo. Contudo, pesquisadores descobriram um navio afundado durante a primeira destas guerras. Acontece que o navio estava explodindo em vida marinha.
Pesquisadores retiraram os restos do navio afundado do Mar Mediterrâneo ainda em 2017, junto a diversos blocos de sedimento. Na superfície dos restos do navio, no entanto, a equipe de pesquisadores descobriu uma variedade imensa de organismos marinhos que colonizaram o rostro de bronze do navio (um prolongamento na frente da embarcação que tinha função de danificar navios inimigos por impacto).
De acordo com uma nova pesquisa, publicada no periódico Marine Ecosystem Ecology, ao menos 114 espécies de invertebrados marinhos colonizaram a superfície do navio ao longo dos mais de 2.000 anos.
De todas as espécies, mais de 50% eram moluscos. Destes, 33 espécies eram de gastrópodes (como os caramujos) e 25 eram bivalves (como as ostras). Além disso, havia no navio 33 espécies de vermes poliquetas e 23 espécies de briozoários – organismos simples semelhantes a poríferos.
“Outras espécies, especialmente os briozoários, atuam como ‘ligantes’: suas colônias formam pontes entre as estruturas calcárias produzidas pelos construtores. Também há os ‘habitantes’, que não são acoplados mas se movem livremente entre as cavidades na superestrutura. O que nós não sabemos exatamente é a ordem na qual estes organismos colonizam os destroços.” Assim afirma o autor Edoardo Casoli.
Estudando a memória ecológica pelo navio afundado
Segundo a pesquisa, ademais, o navio afundado pode ter uma função além de abrigar uma biodiversidade tão ampla. Acontece que navios e estruturas afundadas, de forma geral, servem como modelos de estudo para a colonização de organismos marinhos.
Ou seja, o rostro de bronze do navio conserva a memória ecológica da colonização e quais fatores a favoreceram ou dificultaram. A idade tão avançada dos destroços também mostra como a colonização pode ocorrer a longo prazo.
“Destroços de navios são frequentemente estudados por seguirem a colonização de organismos marinhos, mas poucos estudos têm focado em navios que afundaram mais de um século,” diz a autora Sandra Ricci, em uma declaração a Frontiers.
“Aqui nós estudamos pela primeira vez a colonização de destroços ao longo de um período de mais de 2.000 anos. Nós mostramos que o rostro acabou abrigando uma comunidade muito similar ao hábitat ao redor, devido a ‘conectividade ecológica’ – movimento livre de espécies – entre ele [o navio] e os arredores.”