Por definição, micróbios supostamente são tão pequenos que só podemos vê-los com o uso de um microscópio. Contudo, uma nova bactéria gigante encontrada nos manguezais caribenhos contradiz essa afirmação.
Sua célula única em forma de fio é visível ao olho nu, crescendo a até 2 centímetros – tão longa quanto um amendoim – e 5000 vezes maior que muitos outros micróbios. Além disso, a bactéria gigante tem um genoma imenso que não fica flutuando dentro da célula, como em outras bactérias, mas dentro de uma membrana, inovação que é característica de células bem mais complexas, como as que estão presentes no corpo humano.
O relatório da descoberta foi publicado no dia 18 de fevereiro na base de dados bioRxiv.
A estrutura da bactéria gigante
Bactérias fazem parte do grupo dos procariontes, organismos com estruturas celulares bem pequenas e simples. Os eucariontes, por sua vez, possuem células complexas que contêm um núcleo e outras organelas associadas à membrana.
A bactéria recém-descoberta toca no limiar entre procariontes e eucariontes, pois carrega o DNA numa membrana em forma de bolsa, e uma segunda bolsa maior cheia d’água, que ocupa quase 70% do volume total da célula.
A descoberta é “fantástica e abre os olhos”, disse Victor Nizet, um médico cientista da Universidade da Califórnia, San Diego, que estuda doenças infecciosas. O tamanho fora do comum da bactéria é maior do que moscas-das-frutas e nematoides, organismos de laboratório comuns que ele e outros às vezes infectam com bactérias menores para pesquisa.
A bolsa preenchida de água esmaga todo o conteúdo da célula contra sua borda mais externa, o que pode ajudar as moléculas a se difundirem na célula com mais facilidade, enquanto as toxinas são eliminadas facilmente.
Uma bactéria grande e comedora de enxofre no gênero Thiomargarita carrega o mesmo tipo de bolsa d’água e, com base nessa similaridade, junto a uma análise genética, os pesquisadores concluíram que a nova bactéria gigante pode pertencer ao mesmo gênero. Eles sugeriram que o micróbio monstruoso se chame T. magnifica.
A bactéria gigante causou surpresa
Andrew Steen, um bioinformata da Universidade do Tennessee, Knoxville, achou esse um nome “excelente”. Andrew estuda como microrganismos afetam ciclos geoquímicos. “Ler sobre me faz sentir exatamente da mesma forma que quando escuto sobre um dinossauro enorme, ou alguma estrutura celestial que é impossivelmente grande ou quente ou densa ou estranha de alguma forma”.
Verena Carvalho, microbiologista da Universidade de Massachusetts, Amherst, pensa que a bactéria gigante pode crescer ainda mais que 2cm, se não for pisoteada, comida, soprada pelo vento ou levada por uma onda.
A bactéria gigante “pode ser o link perdido na evolução de células complexas”, disse Kazuhiro Takemoto, um biologista computacional do Instituto de Tecnologia de Kyushu.
“Muito frequentemente, se pensa que bactérias são formas de vida não evoluídas, pequenas e simples – chamadas de ‘sacos de proteínas’”, contou Chris Greening, microbiologista da Monash University, não envolvido no estudo. “Mas essa bactéria demonstra que isso não poderia estar mais longe da verdade”.