As lagostas são imortais?

Dominic Albuquerque

O oceano está marcado por mistérios, pois grande parte dele ainda não foi explorado e estudado pelos cientistas. Esse desconhecimento, por muito tempo, gerou curiosidade e mitos acerca das criaturas que vivem nas profundezas aquáticas do planeta Terra.

Dentre elas, a lagosta.

Mas, embora possuam características distintas que a tornem um animal único, ela não é imortal. Assim como nós, as lagostas possuem um ciclo de vida que chega ao fim, ainda que o caminho até lá seja diferente do que vemos em outros seres

Lagostas são imortais?
Imagem: Graham-H / Pixabay

Lagostas e sua anatomia distinta

Para determinar a idade de diversos animais, os especialistas podem usar faixas de crescimento deixadas em estruturas duras, como escamas ou ossos. Contudo, através das muitas transformações pelas quais a lagosta passa ao longo do seu ciclo de vida, ela não mantém esse tipo de estrutura, dificultando o trabalho dos cientistas e originando a necessidade de novos métodos.

Quando crescem e mudam, esses crustáceos liberam todo o seu exoesqueleto e continuam crescendo ao longo da sua vida, sem manter estruturas duras. Buscando determinar sua idade com precisão, cientistas tentaram analisar o resíduo gorduroso nos pedúnculos oculares, acreditando que lagostas mais velhas armazenariam mais gordura. A conclusão foi que, em média, lagostas europeias (Homarus gammarus) maschos vivem até os 31 anos, e fêmeas até os 54.

Nos últimos anos, pesquisadores também descobriram que lagostas possuem dentes em seu estômago, que permanecem através de todas as mudanças que elas passam. Esses dentes têm linhas semelhantes a anéis de árvores, que podem ajudar a decifrar a idade da lagosta.

Ao longo do tempo, as mudanças pelas quais a lagosta passa diminuem de frequência, e demandam cada vez mais energia. Num certo momento esse custo pode se tornar muito alto, e consequentemente as lagostas morrem de exaustão.

Um especialista sugeriu que entre 10-15% das lagostas terminariam seu ciclo de vida dessa maneira.

Um envelhecimento distinto, mas não imortal

Lagostas são imaortais? Não mesmo
Imagem: Georges Jansoone / wikimedia commons

O termo para o envelhecimento biológico é “senescência”, a deterioração do corpo de um organismo e suas funções corporais. Isso reduz sua capacidade reprodutiva e aumenta a probabilidade da morte. Tal processo é algo complexo e que tem gerado muitos estudos, mas nenhuma teoria ainda tomou autoridade dentro da comunidade científica oferecendo uma resposta final.

A senescência das lagostas é atípica – enquanto envelhecem e se desenvolvem, num processo contínuo de crescimento, as lagostas não enfraquecem, e continuam reproduzindo e se alimentando normalmente.

Um estudo de lagostas americanas (Homarus americanus) sugeriu que a razão para isso seria por elas possuírem um abastecimento infinito da enzima telomerase em suas células, que funcionaria como uma fonte de juventude. Ao regenerar os telômeros, essa enzima estenderia a vida da célula, adiando a senescência.

Numa entrevista, um biólogo da Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida, Thomas Matthew, contou que algumas lagostas vivem longos ciclos de vida. A americana, por exemplo, poderia chegar até os cem anos.

Segundo ele, a temperatura da água seria o fator principal na diferença de envelhecimento entre diferentes espécies, pois afetaria o seu metabolismo. Águas frias como as do oceano atlântico, na região norte da costa leste dos Estados Unidos, ajudariam a reduzir o metabolismo, assim permitindo a lagosta viver mais tempo e envelhecer mais lentamente.

Por mais que possuam um processo diferente de crescimento, mudança e envelhecimento, esses crustáceos podem morrer de predação ou doença. Assim, ainda que possuam um mito em torno de si, as lagostas não são imortais.

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