Um “rei centopeia” foi descoberto em uma caverna tóxica na Romênia

Mateus Marchetto
(© Varpu Vahtera, Pavel Stoev, Nesrine Akkari / Zookeys, doi.org/10.3897/zookeys.1004.58537)

Cavernas não são exatamente lugares amigáveis. Apesar disso, milhares de organismos podem viver nesses ecossistemas e muitos só existem embaixo da superfície. Contudo, conforme aumenta a profundidade, o oxigênio diminui e muitas cavernas possuem gases tóxicos devido a atividade geológica. Essa é exatamente a condição da caverna Movile, na Romênia. Essa cavidade tem mais de 20 metros de profundidade, é extremamente úmida e possui gases tóxicos derivados de metano e enxofre no ar. Por incrível que pareça, existem mais de 50 espécies habitantes desse local e, inclusive, 35 só existem nessa caverna em específico. No entanto, cientistas descobriram uma centopeia bastante peculiar nessa caverna.

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O bicho não passa dos 5 centímetros de comprimento e, ainda assim, é o maior animal que vive em Movile. Por esse motivo a centopeia Cryptops speleorex é o predador de topo de cadeia do ecossistema. Esses invertebrados se alimentam de insetos, aracnídeos e mesmo pequenos crustáceos aquáticos – parecidos com camarões minúsculos. Toda a biodiversidade da caverna, aliás, depende da presença de bactérias que oxidam metano e enxofre, produzindo nutrientes para fungos e sustentando todo o resto da cadeia alimentar dentro da caverna.

A centopeia que nunca viu a luz do sol

Sendo uma espécie endêmica, a C. speleorex existe apenas dentro de Movile. O acesso até o interior da cavidade é bastante difícil, e a caverna dá acesso a um sistema de outros túneis ainda maiores, por meio de um lago subterrâneo. De qualquer forma, os animais que vivem no interior da caverna não têm contato com o ambiente externo. Isso é excepcional porque essa região está dessa forma -isolada da superfície – há mais ou menos 5,5 milhões de anos. Isso permitiu que um pequeno ecossistema prosperasse ali, composto principalmente por bactérias, fungos e, claro, artrópodes.

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(Imagem de 631372 por Pixabay)

Exploradores descobriram a caverna em 1986 e, desde então, pouco se foi explorado do lugar. Isso porque a taxa de oxigênio do ar lá é de aproximadamente 7%, ou seja, um terço do que seria o normal na superfície. Não obstante, o ar também é cheio de gases tóxicos como amônia e metano, além de ser saturado de água. Dessa forma apenas organismos extremamente resistentes à atmosfera tóxica conseguiram sobreviver por milhões de anos nas profundezas de Movile.

Uma espécie completamente nova

Como dito antes 35 espécies registradas só existem nessa caverna e em nenhum outro lugar do mundo. Pesquisadores relataram a morfologia da nova espécie de centopeia em um estudo publicado no periódico ZooKeys. O artrópode tem uma coloração intensa amarela, por vezes podendo ser marrom. Além disso essa centopeia é bastante similar a outra espécie, Cryptops anomalans, comum ao redor da Europa inteira, principalmente na superfície. Apesar disso, estudos moleculares comprovaram a diferença genética entre ambas e algumas hipóteses sugerem que elas podem ter surgido de um ancestral comum.

Vale lembrar que a maioria das espécies de centopeias são venenosas e essa nova espécie não é uma exceção. Como citado anteriormente, o animal é o maior encontrado na caverna e caça ativamente todos os tipos de outros artrópodes que habitam a caverna de Movile.

O artigo está disponível no periódico ZooKeys.

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