Ilha brasileira tem a maior concentração de cobras venenosas do mundo

Mateus Marchetto
Imagem: Mark Moffett/Minden Pictures/Corbis

A Ilha de Queimada Grande fica no litoral paulista e provavelmente se separou do continente há 11.000 anos pelo aumento do nível do mar. Além de ser um paraíso natural isolado, a ilha tem uma caraterística um tanto assustadora: a maior concentração de cobras venenosas do planeta.

Nenhuma equipe pode desembarcar na Ilha de Queimada Grande (também apelidada de Ilha das Cobras) sem um médico como acompanhante. Além do mais, as raras visitas são restritas a pesquisadores e à Marinha do Brasil, que realiza a manutenção de instalações por lá. Tudo isso para evitar um ambiente que pode abrigar uma serpente venenosa a cada metro quadrado.

Ilha da Queimada Grande Itanhaem
Imagem: Prefeitura Municipal de Itanhaém / Wikipedia Commons

Quando o mar subiu, há 11.000 anos, as espécies de cobras que habitavam a porção de terra da Ilha de Queimada Grande ficaram isoladas. Ademais, as muitas espécies de cobras venenosas também se viram ilhadas sem predadores ou presas naturais restantes. Por esse motivo, por conseguinte, as serpentes da ilha se alimentam de aves migratórias e dependem de venenos potentes para abatê-las.

Devido à biodiversidade do local, pesquisadores lutam pela preservação dos ecossistemas da Ilha de Queimada Grande. Venenos de diversas serpentes são úteis não apenas para a fabricação de soros antiofídicos, mas também para a prospecção de novos fármacos para as mais variadas doenças.

Uma destas espécies, inclusive, é uma serpente altamente ameaçada de extinção e um das cobras mais venenosas do planeta: a jararaca-ilhoa.

Entre as cobras mais venenosas e ameaçadas

A jararaca-ilhoa é endêmica da Ilha de Queimada Grande, com cerca de 2.000 animais habitando a ilha. Ou seja, a espécie não existe em nenhum outro lugar do planeta além da Ilha das Cobras.

Além disso, a jararaca-ilhoa também tem uma característica especial que a diferencia das demais jararacas: a sua forma de caça. Acontece que a maioria destes animais, do gênero Bothrops, caçam em terra, rastreando a presa após aplicarem o veneno pela picada.

Contudo, sem presas terrestres, a jararaca-ilhoa se tornou um predador arborícola (que vive em árvores). Portanto, tanto essa espécie de jararaca quanto as demais cobras venenosas da ilha dependem de grupos de aves migratórias, como dito anteriormente, que visitam a ilha periodicamente.

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Bothrops insularis ou jararaca-ilhoa. Imagem: Nayeryouakim / Wikipedia Commons

Por esse motivo também, as jararacas-ilhoas precisaram desenvolver toxinas altamente potentes, de forma a abater aves rapidamente antes que elas voem para um local distante demais. Assim, estima-se que o veneno de uma jararaca-ilhoa seja três vezes mais potente do que aquele das cobras do mesmo gênero no continente.

Uma picada do animal pode matar uma pessoa em, no máximo, seis horas. Mesmo com o tratamento antiofídico, a toxina desta cobra pode causar falência renal e hemorragias cerebrais, além da necrose local.

Vale comentar que esta serpente também é classificada como criticamente ameaçada de acordo com a IUCN – apenas um nível de classificação antes da extinção.

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