Fungos podem ter sido os verdadeiros pioneiros da vida na Terra

Uma nova pesquisa está revolucionando nossa compreensão sobre a história da vida em nosso planeta. Segundo estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution, os fungos podem ter surgido muito antes do que se pensava – entre 900 milhões e 1,4 bilhão de anos atrás – e desempenhado um papel fundamental na preparação dos continentes para a chegada das plantas.

Por muito tempo, os fungos foram negligenciados nas narrativas sobre evolução. Isso acontece porque sua estrutura mole e filamentosa se fossiliza muito mal, deixando poucos vestígios no registro fóssil. Além disso, sua diversificação parece ter origem em múltiplos ancestrais unicelulares, o que complica qualquer datação precisa.

Para contornar esse problema, os pesquisadores desenvolveram uma abordagem inovadora baseada no conceito de “relógio molecular”. Esta técnica analisa o acúmulo de mutações genéticas ao longo das gerações para determinar quando diferentes espécies divergiram de um ancestral comum.

Uma nova metodologia para desvendar o passado

O diferencial desta pesquisa foi focar em genes que não são transmitidos “verticalmente” dos pais para os filhos, mas “horizontalmente” de uma espécie para outra. Esses transferts genéticos horizontais permitiram reconstruir uma cronologia relativa que necessita apenas de alguns pontos de referência fósseis.

Os resultados surpreenderam a comunidade científica ao revelar a existência de um ancestral comum aos fungos muito mais antigo do que se imaginava – anterior ao surgimento das plantas terrestres e dos animais.

Arquitetos invisíveis dos ecossistemas

De acordo com o estudo, os fungos teriam preparado o terreno para a colonização dos continentes pelas plantas. Ao alterar as rochas, eles iniciaram os ciclos de nutrientes essenciais e favoreceram a formação dos primeiros solos. Isso significa que as plantas não se instalaram em terras estéreis, mas em um ambiente já transformado por um rico tapete de fungos.

A importância dos fungos vai além desse papel ecológico fundador. Através de redes subterrâneas complexas, eles funcionam como verdadeiros sistemas de comunicação, transmitindo nutrientes, detectando ameaças e trocando sinais químicos com as raízes das plantas. Alguns pesquisadores chegam a falar de uma “inteligência distribuída”, onde cada filamento participa de decisões coletivas.