A cerca de 22 milhões de anos atrás, Simbakubwa era um predador feroz que “tinha muitas lâminas”, relataram os paleontólogos.
Fósseis de um tipo de felino que viveu na região há 22 milhões de anos e que era sete vezes maior que seu primo distante, o leão, foi descoberto no Quênia. “O punhado de fósseis misteriosos ficou sem estudo por décadas, guardado com segurança em uma gaveta do Museu Nacional de Nairóbi, no Quênia”, relata a National Geographic. Mas agora, após análise feita por uma equipe de paleontólogos dos restos antigos, concluiu-se que eles pertenciam a um mamífero gigante que comia carne, maior do que um urso polar, uma espécie recém-descrita. O gigantesco carnívoro foi apelidado de Simbakubwa kutokaafrika, que significa “Leão grande da África”.
O poderoso predador caçou pela África adversários como elefantes e hipopótamos, segundo o estudo publicado nesta quarta-feira (17) no Journal of Vertebrate Paleontology. “Considerando o tamanho de seus dentes, Simbakubwa era um hipercarnívoro”, explica Matthew Borths, da Universidade americana de Duke, principal autor do estudo.
Embora Simbakubwa se traduza em “leão grande” em suaíli, este gigante carnívoro não era um grande felino. Simbakubwa foi um mamífero carnívoro terrestre. Ele é o membro mais antigo conhecido de um grupo de mamíferos já extintos chamados hyaenodonta, nome que faz referência à sua semelhança dos dentes dos membros desse grupo com os das hienas. Os hyaenodontas não têm relação próxima com qualquer espécie de carnívoro mamífero que vive hoje.
“Embora eles ocupassem papéis carnívoros no ecossistema, eles não estavam intimamente relacionados aos carnívoros modernos. Nem mesmo às hienas ”, explicou Borths em um e-mail ao Gizmodo. Segundo Borths, “o nome hyaenodonta significa simplesmente dente semelhante à hiena, mas seus dentes são realmente muito diferentes dos de uma hiena”. Acontece que hienas, leões e lobos só têm um par de dentes semelhantes a tesouras em cada lado da mandíbula para ajudá-los a cortar a carne. Já os hyaenodontas tinham três pares desses dentes. “Isso é muito em termos de lâminas para uma mandíbula”.
Os restos fossilizados do Simbakubwa foram descobertos entre 1978 e 1980 em um importante sítio paleontológico no oeste do Quênia chamado Meswa Bridge. Os pesquisadores que encontraram os fósseis estavam realmente procurando evidências de macacos antigos. Desinteressados em estudar os fósseis um pouco mais, eles colocaram os espécimes, que incluíam alguns ossos da bochecha, dentes superiores e inferiores, pedaços de mandíbula, um osso do calcanhar e várias garras, em uma das gaveta do museu de Nairóbi, onde ficaram por cerca de trinta anos.
Em 2010, a paleontóloga Nancy Stevens, da Universidade de Ohio, estava trabalhando em fósseis coletados no sítio Meswa Bridge, quando se deparou com a coleção na gaveta. Três anos depois, o paleontólogo Matthew Borths, que atualmente é pesquisador de pós-doutorado da National Science Foundation no Laboratório Stevens, na Universidade de Ohio, fez o mesmo, levando os dois a colaborar em uma investigação detalhada das peças fossilizadas.
“Descobertas como essa ressaltam a importância dos museus como fonte de informações sobre o passado de nosso planeta”, disse Stevens ao Gizmodo. “Compreender em larga escala os padrões de como os organismos respondem às mudanças ambientais ao longo do tempo pode oferecer insights sobre fragilidade e resiliência de ecossistemas no mundo moderno”.
“Essa descoberta ajuda a conectar alguns dos pontos evolutivos para este grupo de grandes comedores de carne, que estavam perto do topo da cadeia alimentar nos mesmos ecossistemas africanos, onde macacos primitivos e macacos também estavam evoluindo“, escreveu a National Geographic. O fóssil também pode ajudar os cientistas a entender melhor por que esses predadores não sobreviveram.
“Os caninos eram do tamanho de bananas e cerca de 10 cm de que estava saindo da mandíbula para pegar a presa”, disse Borths. “Os dentes cortantes de carne na parte de trás da mandíbula eram do tamanho da palma da mão”.
Com base nos fósseis analisados, Borths e Stevens estimaram que Simbakubwa tinha cerca de 1,2 metro de altura e 2,5 metros de comprimento. O espécime dos ossos fossilizados do estudo em particular provavelmente pesava mais de mil quilogramas. Na época em que estava vivo, o Simbakubwa teria sido o maior predador do seu ecossistema — florestas da África Oriental onde habitavam alguns antigos primatas parentes macacos com cauda e primatas de grande porte como os gorilas atuais e também os antecedentes dos hipopótamos e elefantes atuais.
Seu ambiente provavelmente consistia em um habitat florestal com aglomerados de árvores e alguns espaços abertos entre eles, explicou Borths. Não era exatamente uma selva, mas não era como um ambiente pastagem. Na mesma época, um macaco primitivo conhecido como procônsul vivia nas árvores, enquanto antracómeros, um parente que lembra um hipopótamo esguio, parentes dos elefantes atuais e gigantescos hyraxes (imagine uma enorme marmota) procuravam alimento no chão.
“Simbakubwa provavelmente caçava antracoterídeos, elefantes e hyraxes perseguindo-os em vez de persegui-los por longas distâncias”, disse Borths ao Gizmodo. “O tornozelo de Simbakubwa indica um animal construído mais para saltar do que para desramagem das árvores”.
Quando esse hyaenodonte estava vivo, era o início de um importante período geológico e evolutivo no qual a África, atém então isolada, fundiu-se com a Eurásia devido a movimentos tectônicos. Isso resultou em uma enorme mistura de animais e plantas.
“Essa foi uma grande mudança”, explicou Borths à fonte consultada, “Determinar os principais fatores que levaram à extinção dos hyaenodontes nove milhões de anos atrás tem implicações importantes para entendemos as ameaças enfrentadas pelos modernos mamíferos carnívoros como leões e ursos polares”.
Por isso, pensando na continuidade das pesquisas, Borths e Stevens esperam encontrar mais fósseis de Simbakubwa e entender melhor o ambiente dinâmico onde esse animais viveram e, por fim, foram extintos.
Borths explicou ainda que “os henodontes eram extraordinariamente adaptáveis, mas no final foram extintos. Com mais informações, esperamos poder ajudar os biólogos conservacionistas a conservar as populações carnívoras modernas antes que elas tenham o mesmo destino que os parentes de Simbakubwa”. [Journal of Vertebrate Paleontology]