Fóssil de 500 milhões de anos tem sistema nervoso conservado

Mateus Marchetto
Imagem: Imagem: Ortega-Hernández et al. / Nature Communications 2022

Há 508 milhões de anos, um artrópode de poucos milímetros de comprimento morreu e acabou conservado pelos sedimentos do solo. Agora, uma equipe de pesquisadores olhou para os fósseis sob um microscópio e descobriu um sistema nervoso altamente conservado.

Na verdade, dois fósseis da espécie Mollisonia symmetrica contém tecidos nervosos conservados. Como relata a pesquisa, publicada no periódico Nature Communications, um dos fósseis estava armazenado na nas coleções de Harvard, enquanto o outro estava com a Smithsonian Institution.

De acordo com especialistas, contudo, ainda é muito difícil dizer qual a posição do Mollisonia symmetrica na árvore evolutiva dos artrópodes. A espécie é bastante antiga e viveu durante o período Cambriano, entre 541 e 485 milhões de anos atrás.

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Detalhe do sistema nervoso do fóssil de Harvard. Imagem: Ortega-Hernández et al. / Nature Communications 2022

Justamente pelos animais serem tão antigos, a descoberta de tecidos moles, como o tecido nervoso, é uma raridade. Ao Live Science, os autores afirmam que a olho nu os fósseis não tem muito de especial. Contudo, uma inspeção no microscópio revelou que ambos continham partes dos sistema nervoso fossilizado, bem conservadas.

Nos fósseis é possível ver estruturas como parte do olho e um nervo percorrendo o corpo do animal. Ainda, os autores relatam que viram canais semelhantes aos nervos ópticos de artrópodes, mas não foi possível confirmar essa observação com riqueza de detalhes.

Encaixando o fóssil de 500 milhões de anos na árvore evolutiva

Sendo de um artrópode, este fóssil de 500 milhões de anos tem diversas similaridades com os crustáceos, insetos e aracnídeos que conhecemos. Contudo, a morfologia do animal é bastante diferente daquela dos artrópodes modernos. Assim, a equipe propôs duas possíveis linhas evolutivas para o M. symmetrica.

Estas hipóteses evolutivas indicam que o M. symmetrica compartilhou um ancestral com os animais quelicerados, como aranhas e escorpiões. Assim, é possível que o sistema nervoso altamente simples dos M. symmetrica tenha dado origem aos cérebros bastante condensados dos aracnídeos.

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Imagem: stevepb / Pixabay

Contudo, as duas hipóteses divergem no posicionamento de outros artrópodes do Cambriano na árvore evolutiva. Assim, é possível que os cérebros de quelicerados tenham evoluído de forma mais ou menos linear ou que tenham surgido independentemente em organismos diferentes.

No entanto, ainda é impossível validar essas hipóteses com os dados disponíveis.

“Acho que é preciso mais preparação, um espécime melhor”, diz o especialista Nicholas Strausfeld, não envolvido com a pesquisa. “Talvez haja outro espécime por aí em algum lugar em um museu.”

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