Folhas que brilham durante tempestades podem modificar qualidade do ar

Daniela Marinho
Tempestade. Imagem: Canva

Conhecidas como coronas, as descargas que algumas plantas e árvores emitem são pequenos disparos elétricos visíveis em suas pontas quando as plantas ficam capturadas sob os campos elétricos gerados por tempestades. As coronas proporcionam, desse modo, um espetáculo de folhas que brilham – faíscas, quase translúcidas, mas em tom azulado – que cintilam ao redor de objetos carregados. Esse fenômeno já é conhecido pelos cientistas: quando o relâmpago resplandece no alto, as plantas no solo podem responder na mesma moeda emitindo seu próprio brilho.

No entanto, um novo estudo traz à tona um mistério, até então, indecifrável para os pesquisadores: as faíscas vindas das plantas podem estar modificando a qualidade do ar de formas nunca antes vistas. A questão que circunda a pesquisa é se os impactos desses mini choques são maléficos ou benéficos para a atmosfera num contexto geral.

Novo estudo investiga os impactos para a atmosfera de folhas que brilham

Publicado em agosto no Journal of Geophysical Research: Atmospheres, o estudo sobre folhas que brilham traz os resultados de novas pesquisas em que os cientistas recriaram em laboratório os campos elétricos das tempestades e analisaram as coroas emitidas por oito espécies de plantas sob condições variadas.

De acordo com Jena Jenkins, principal autora do estudo, pós-doutoranda do Departamento de Meteorologia e Ciências Atmosféricas da Penn State: “Embora pouco se saiba sobre a extensão dessas descargas, estimamos que as coroas geradas em árvores sob tempestades podem ter impactos substanciais no ar ao redor”.

Resultado da pesquisa

Folhas que brilham1
Descargas elétricas fracas, chamadas corona, podem se formar nas pontas das folhas das árvores durante tempestades. Imagem: Penn State

Diante dos experimentos, os cientistas chegaram na conclusão de que as condições durante as tempestades que produzem raios também criam campos elétricos entre solo e nuvens. Além disso, os objetos altos e pontiagudos, como folhas no alto de árvores, aumentam ainda mais o campo elétrico e podem levar a falhas elétricas.

Desse modo, a equipe descobriu que as coronas – geradas nas folhas que brilham – ocasionam extremas quantidades do radical hidroxila – OH – e do radical hidroperoxil – HO2. O radical hidroxila, por sua vez, inicia reações químicas importantíssimas na atmosfera que limpam o ar dos gases de efeito estufa, como o metano.

Contudo, essas consequentes reações químicas também produzem poluição por ozônio e partículas de aerossol, segundo os pesquisadores informaram. O co-autor do estudo, William Brune, meteorologista da Penn State University, disse em comunicado: “O radical hidroxila contribui para a oxidação atmosférica total de muitos poluentes atmosféricos, incluindo o gás de efeito estufa metano, melhorando a qualidade do ar e retardando as mudanças climáticas. No entanto, essas reações também podem levar à formação de ozônio e pequenas partículas de aerossol, afetando negativamente a qualidade do ar e o clima […] Portanto, entender todas as fontes potenciais de OH é importante para prever a qualidade do ar e o clima no futuro.”

Nota-se, dessa forma, a imprevisibilidade na questão da qualidade do ar, visto que ao considerar o grande número de árvores presentes em áreas propensas a raios, as coronas produzidas por plantas podem representar uma fonte de radicais ainda pouco estudada.

Pesquisa deve continuar

“O radical hidroxila é o limpador mais importante da atmosfera, então ter uma melhor contabilidade de onde esse material está sendo feito pode nos dar uma compreensão mais completa do que está acontecendo na atmosfera”, afirmou Jenkins. “E as tempestades podem estar acontecendo com mais frequência com a mudança climática. Portanto, essas são boas razões para continuar explorando e entendendo esses processos.”

As fracas descargas elétricas que resultam em folhas que brilham devem ser melhor investigadas, pois a reação resultante tem um papel fundamental no clima global, positivo ou negativamente falando; de todo modo, o impacto é significativo: “Este é definitivamente um processo que está acontecendo o tempo todo e, com base nos cálculos que conseguimos fazer até agora, achamos que isso pode afetar a qualidade do ar dentro e ao redor de florestas e árvores.”, disse Jenkins.

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