Houve uma época em que a realidade da medicina para os europeus se baseava em utilizar métodos canibais. Lendo um poema do século 17 de John Donne, a professora Louise Noble achou uma palavra inesperada comparando mulheres em meio a outras palavras comuns: ‘doçura’, ‘inteligência’ e… ‘múmias’.
Em sua busca por explicação, Noble viu que a palavra ‘múmias’ era recorrente em toda a literatura da Europa Moderna, porque múmias e outros restos humanos preservados e frescos eram um ingrediente comum na medicina daquela época.
Resumindo: não faz muito tempo, os europeus eram canibais.
Remédio inesperado
Noble e Richard Sugg escreveram livros sobre o tema que revelam uma prática realizada por várias centenas de anos, com pico nos séculos 16 e 17.
Muitos europeus, inclusive realeza, sacerdotes e cientistas, tinham como hábito ingerir remédios contendo ossos humanos, sangue e gordura.
Eram remédios para tudo, desde dor de cabeça até epilepsia.
Incrivelmente, havia poucos oponentes a essas práticas canibais na Europa, mesmo que o canibalismo nas recém-exploradas Américas fosse considerado um sinal de selvageria.
Múmias eram roubadas de tumbas egípcias e crânios foram retirados de cemitérios irlandeses. Coveiros roubavam e vendiam partes de corpos.
Rotina de canibalismo
A questão da época era ‘qual o tipo de carne você deveria consumir?’ e não ‘você deve consumir carne humana?’.
Sugg diz que a resposta, a princípio, veio com múmias egípcias desfeitas para estancar sangramento interno.
Logo, outras partes do corpo foram consumidos. O crânio era um ingrediente comum e os europeus o bebiam em forma de pó para curar doenças de cabeça.
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Thomas Willis, um pioneiro da ciência do cérebro do século 17, preparava bebidas que misturavam crânio humano em pó com chocolate.
E o rei Carlos II da Inglaterra bebia o “The King’s Drops”, com crânio humano em álcool.
Até a gordura humana era usada para tratar a parte externa do corpo. Médicos alemães, por exemplo, prescreviam curativos embebidos nela para feridas. Além de esfregar gordura na pele como remédio para gota.
Acreditava-se que o sangue fresco continha a vitalidade do corpo.
Respostas para a época
Em outras palavras, a busca desajeitada por esses remédios era a busca por respostas de como tratar doenças em uma época que nem mesmo a circulação do sangue era compreendida.
No entanto, o consumo de restos mortais estava de acordo com as principais teorias médicas da época.
Segundo Noble, surgiu de ideias homeopáticas como cura. Então, você come crânio triturado para dores de cabeça ou bebe sangue para doenças do sangue.
Outra razão pelo qual os restos mortais eram considerados potentes era o pensamento que esses continham o espírito do corpo do qual foram retirados. Nesse contexto, o sangue era visto como algo realmente poderoso.
Os remédios canibais encontraram seu fim conforme a ciência avançava. A prática diminuiu no século 18, na mesma época em que as pessoas começam a usar garfos para comer e sabão para tomar banho.
Informações de Smithsonian Magazine.