Um gesto bastante comum em cães – e de amolecer o coração – é quando o bicho gira a cabeça levemente para o lado, dando uma impressão de curiosidade. Todavia, pesquisadores agora mostraram que este comportamento nos cachorros pode ter uma profunda relação com a concentração e a memória dos caninos.
A pesquisa, publicada no periódico Animal Cognition, começou bastante ampla. Primeiramente, os pesquisadores recrutaram 40 cães de variadas raças e seus respectivos donos para uma análise comportamental. Todas as atividades, ademais, foram realizadas de forma remota por softwares de livestream.
Nesse primeiro estágio, os donos pediram para que seus cachorros pegassem um brinquedo específico, com um nome definido, após um tempo para o animal se acostumar aos brinquedos novos (apresentados aos cães ao início da pesquisa).
Um dos resultados interessantes, por conseguinte, é que apenas 7 dos cãezinhos conseguiram atingir níveis altos de memorização dos seus novos brinquedos. Todos estes sete animais, aliás, eram border collies: uma raça criada inicialmente para o pastoreio.
Além do mais, uma outra característica chamou a atenção dos autores da pesquisa. Estes 7 collies, que receberam o apelido de “aprendizes talentosos de palavras” (do inglês, gifted word learners), giravam suas cabeças com uma frequência bastante alta antes de recuperarem os brinquedos corretos. Essa frequência, aliás, era mais alta (43%) do que a dos demais cães do estudo (2%).
Os autores ressaltam que, apesar dos border collies serem considerados cachorros altamente inteligentes, ainda não é possível extrapolar que a memória excepcional seja uma característica da raça. Isso porque outros 17 border collies participaram da pesquisa e não tiveram sucesso na memorização.
Ademais, a equipe observou em outros estudos, capacidades altas de memorização em pastores-alemães, pequineses e yorkshires.
A memória visual e auditiva destes collies pode ser excepcional
De acordo com a pesquisa, há uma forte correlação entre o giro da cabeça dos cachorros e a porcentagem de acertos na memorização dos brinquedos. Além do mais, os cachorros mostraram uma preferência no lado para o qual giravam a cabeça.
Esse comportamento bilateral, aliás, já foi registrado em cães, apesar desta ser a primeira vez deste gesto especificamente ser demonstrado como tal. Para exemplificar, nós seres humanos temos esses comportamentos bilaterais quando preferimos usar uma mão ao invés da outra, criando destros e canhotos.
Para testar a memória destes “aprendizes talentosos de palavras”, todavia, os pesquisadores realizaram mais três meses de estudos com os seis border collies ( infelizmente um dos animais morreu, por isso o número reduziu).
Nesse estágio os cães precisaram tentar memorizar 13 novos brinquedos de acordo com seus nomes. O número de acertos variou entre 57% e 91% das vezes, com a melhor memória pertencendo ao norueguês Whisky.
Posteriormente a equipe de pesquisa também testou a memorização dos cães com 12 novos brinquedos ao longo de um e dois meses. Ainda com esses períodos mais longos, os collies apresentaram taxas de memorização de 61% e 57%, respectivamente.
“Cachorros são bons modelos para estudar o comportamento humano, uma vez que eles evoluíram e se desenvolveram em ambientes humanos,” afirma o autor Adam Miklósi em uma declaração. “Com estes cães talentosos nós temos uma oportunidade única para estudar como uma outra espécie entende a linguagem humana e como aprender palavras influencia na forma como pensamos o mundo.”
A pesquisa está disponível no periódico Animal Cognition.
