Estrutura inesperada envolve o núcleo da Terra, aponta estudo

Pode haver "montanhas'" subterrâneas perto do núcleo da Terra.

Daniela Marinho
Imagem: Edward Garnero e Mingming Li na Arizona State University

Cientistas descobriram novas informações sobre o antigo fundo do oceano no limite do manto central do planeta Terra: é possível que existam “montanhas” subterrâneas perto do núcleo do planeta. Mais precisamente, pode haver um fundo oceânico fino, mas denso e afundado nas profundezas entre o núcleo e o manto terrestre.

O manto e o núcleo são duas das camadas que compõem o interior da Terra. O manto é a camada externa, localizada entre a crosta terrestre (a camada mais externa) e o núcleo (a camada mais interna). O manto representa cerca de 84% do volume total do planeta e é composto principalmente por silicatos de ferro e magnésio.

O núcleo da Terra, por sua vez, é a camada mais interna e central da Terra, localizada abaixo do manto. É composto principalmente por ferro e níquel, e é dividido em núcleo externo e núcleo interno. Já o núcleo externo é uma camada líquida em movimento que circunda o núcleo interno sólido. O núcleo interno é uma bola sólida com um raio de cerca de 1.220 km, e é a camada mais quente e densa da Terra, com temperaturas que podem chegar a mais de 5.500 graus Celsius. O núcleo também é responsável pela geração do campo magnético terrestre, pois está em constante movimento gerando, portanto, correntes elétricas.

Novo estudo procurou pistas de um longo oceano próximo ao núcleo da Terra

Os pesquisadores usaram imagens sísmicas em escala global do interior da Terra para procurar pistas de um longo oceano subterrâneo. A descoberta foi publicada na revista Science Advances 

Aproximadamente 3.200 km abaixo da superfície terrestre, a camada rochosa do manto encontra-se com o núcleo externo derretido de metal. Até recentemente, a existência de um possível leito oceânico antigo na fronteira do núcleo-manto só havia sido observada em algumas áreas específicas.

No entanto, pesquisas recentes mostram que essa camada pode abranger uma grande parte da fronteira núcleo-manto da Terra.

Estrutura que tornou a pesquisa possível

nucleo da Terra 1
Imagem: Canva

Neste estudo, os pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido utilizaram uma rede de 15 sismógrafos posicionados no noroeste da Antártida e conseguiram reunir informações ao longo de três anos. A rede de estações sismográficas analisa as ondas sísmicas da Terra, produzindo uma imagem do interior do planeta, semelhante ao processo de varredura realizado por uma ressonância magnética para criar uma imagem do corpo humano.

Desse modo, a equipe notou que no limite do núcleo-manto, as ondas sísmicas desaceleravam quando atingiam uma camada específica. Esta camada tem cerca de 6 a 40 km de espessura, mas na verdade é muito fina em termos de composição planetária.

As áreas onde as ondas sísmicas são mais lentas são identificadas como zonas de velocidade ultrabaixa (ULVZ), localizadas no interior da Terra e formadas há milhões de anos pela subducção das placas tectônicas. Essas áreas são mais densas do que o restante do manto profundo, semelhando-se a “montanhas” que se estendem ao longo do limite entre o núcleo e o manto, variando em altura de menos de 6 km a mais de 40 km.

Imagens de alta resolução

Samantha Hansen, coautora do estudo e geocientista da Universidade do Alabama, disse em comunicado que “Investigações sísmicas, como a nossa, fornecem a imagem de mais alta resolução da estrutura interior do nosso planeta, e estamos descobrindo que essa estrutura é muito mais complicada do que se pensava […] Nossa pesquisa fornece conexões importantes entre a estrutura rasa e profunda da Terra e os processos gerais que impulsionam nosso planeta.”

O geofísico Edward Garnero, da Universidade Estadual do Arizona, também detalhou a pesquisa: “Analisando milhares de gravações sísmicas da Antártica, nosso método de imagem de alta definição encontrou finas zonas anômalas de material no CMB [limite do núcleo-manto] em todos os lugares que sondamos […] A espessura do material varia de alguns quilômetros a dezenas de quilômetros. Isso sugere que estamos vendo montanhas no núcleo, em alguns lugares até 5 vezes mais altas que o Monte Everest.”

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