Núcleo interno da Terra pode ter parado e possivelmente revertido

Mateus Marchetto
Imagem: Getty Images

O núcleo da Terra possui duas regiões — interna e externa — que influenciam na dinâmica da superfície e de outras camadas do planeta. A forma como o núcleo do planeta se movimenta influencia, por exemplo, na duração dos dias e no campo eletromagnético da Terra. Uma nova pesquisa indica, no entanto, que o núcleo interno pode ter parado de rodar, e até mesmo começado a girar no sentido contrário.

Juntos, o núcleo interno e externo possuem aproximadamente 7.000 km de diâmetro, compostos majoritariamente de ferro e níquel. Na região interna, contudo, a pressão é tão absurdamente alta que o componente ferroso fica no estado sólido, enquanto a região externa permanece líquida.

Essa parte líquida isola mecanicamente a porção interna, que por sua vez pode ter um giro independente do giro do planeta em si. Há muito debate entre especialistas sobre a taxa (ou mesmo a existência) dessa chamada “super-rotação” do núcleo da Terra. Contudo, uma nova pesquisa publicada no periódico Nature Geoscience mostra que a rotação do núcleo interno variou muito desde o ano de 1969, se acelerando e desacelerando ao longo do tempo.

Núcleo da Terra mudando ao longo das décadas

Entre 1969 e 1971 o núcleo interno deve ter “sub-rotado”, ou seja, rodado mais lentamente que o manto. De acordo com a pesquisa, após 1971 o núcleo interno de fato passou a rodar mais rápido que o manto, desacelerando até aproximadamente o ano de 2009, quando a rotação deve ter parado relativamente às camadas mais externas.

Na pesquisa, os autores afirmam que a rotação “chegou próxima a uma parada em torno de 2009 e então virou na direção oposta.”

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Representação artística do núcleo interno do planeta Terra.

Os dados coletados e analisados pelos pesquisadores, portanto, sugerem aos autores que a rotação relativa do núcleo interno deve ter parado por volta de 2009, e tenha possivelmente iniciado no sentido contrário após isso.

Para analisar esse tipo de dinâmica interna do planeta, geólogos dependem principalmente de diferentes tipos de ondas sísmicas que se propagam a diferentes velocidades e em camadas distintas da Terra. As ondas S, ou secundárias, por exemplo, são ondas transversais e não se propagam em meios fluidos. Já as ondas P, ou primárias, se propagam em grandes velocidades em meios líquidos ou fluídos.

Em 1996, Xiaodong Song (autor da nova pesquisa) publicou um artigo indicando que, desde os anos 60, o tempo de viagem de ondas sísmicas do núcleo da Terra até uma mesma estação de monitoramento variou. Isso indica, mais uma vez, o movimento rotacional do núcleo interno diferente daquele observado no manto e demais camadas do planeta.

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Imagem: WikiImages/Pixabay

À AFP, os autores afirmam: “Nós acreditamos que o núcleo interno roda, relativo à superfície da Terra, para frente e para trás, como uma balança.”

“Um ciclo da balança leva aproximadamente sete décadas,” o que quer dizer que a cada 35 anos, aproximadamente, há uma inversão na direção de rotação. Isso também implica que, para avaliar o próximo ciclo completo, pesquisadores precisarão esperar mais algumas cinco ou seis décadas.

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