No passado, a Terra e a Lua compartilharam o mesmo campo magnético

Felipe Miranda
(Shutterstock)

O campo magnético exerce uma importantíssima função em um planeta ou satélite – proteger das intempéries espaciais. O Sol – e qualquer outra estrela – lança, ao espaço, toneladas e mais toneladas de plasma super carregado, além de muita radiação. O campo magnético bloqueia, então, grande parte disso. As auroras são, inclusive, efeito desse bloqueio.

Mas nem sempre tudo foi tão perfeito. Quatro bilhões de anos atrás, a Terra era inabitável. Era um verdadeiro inferno, com a superfície quente e o ar tóxico para quaisquer formas de vida. E não só a Terra era raivosa. A atividade do jovem Sol era muito maior também, ou seja, muitas ejeções de massa coronal e ventos solares atingiam a Terra, que era agredida a torto e a direito – e o campo magnético terrestre não segurava tudo sozinho.

Além de impossibilitar a vida, há um problema: a radiação ionizante é capaz de destruir a atmosfera. A radiação ionizante é aquela capaz de transformar um átomo em um íon, ou seja, arrancando alguns elétrons da eletrosfera atômica. Qualquer onda eletromagnética com frequência maior do que a radiação ultravioleta ioniza – e recebemos muita luz ultravioleta aqui. 

Mas em um novo estudo da revista Science Advances, os cientistas sugerem o que protegeu a Terra naquele período: a Lua. Hoje, o interior da Lua já esfriou, e ela não é mais capaz de gerar um campo magnético. Mas durante a sua juventude, podia sim manter um campo magnético. 

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(NASA)

Barreira natural

Os cientistas acreditam que a Lua ajudou a Terra a não perder sua atmosfera e a manter condições favoráveis para a vida quando a superfície da Terra deixou de ser um inferno, mesmo com uma atividade solar mais constante. Embora hoje muito morta, a Lua fora muito ativa.

“A Lua parece ter representado uma barreira protetora substancial contra o vento solar para a Terra, o que foi fundamental para a capacidade da Terra de manter sua atmosfera durante este tempo”, explica em um comunicado o autor principal do estudo, Jim Green, cientista-chefe da NASA. “Estamos ansiosos para acompanhar essas descobertas quando a NASA enviar astronautas à Lua por meio do programa Artemis, que retornará amostras críticas do pólo sul lunar”.

A Lua se formou de uma forma violenta – o choque de dois corpos. Quando um planeta chamado Theia se chocou com a Terra, então, nos conturbados primórdios do sistema solar, um grande fragmento tornou-se a Lua. Isso ocorreu, mais precisamente, há 4,5 bilhões de anos. Hoje, o seu interior já esfriou, mas naquela época ainda permanecia quente o suficiente para gerar um campo magnético.

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(NASA)

“É como fazer um bolo: você tira do forno e ele ainda está esfriando”, explica Green. “Quanto maior a massa, mais tempo leva para esfriar”.

Entendendo o campo magnético

“Compreender a história do campo magnético da Lua nos ajuda a entender não apenas as atmosferas iniciais possíveis, mas como o interior lunar evoluiu”, diz David Draper, co-autor do estudo. “Isso nos fala sobre como o núcleo da Lua poderia ter sido – provavelmente uma combinação de metal líquido e sólido em algum momento de sua história – e essa é uma peça muito importante do quebra-cabeça de como a Lua funciona no interior”.

Em diversos momentos o campo magnético luar teria filtrado a radiação mais forte – e a Terra teve que lidar com uma quantidade menor. Isso ocorreu no período entre 4,1 e 3,5 bilhões de anos atrás. O nitrogênio e oxigênio da Terra podem ter viajado para a Lua nesse período. Então, na próxima missão tripulada, os astronautas podem testar a ideia.

“Amostras significativas dessas regiões permanentemente sombreadas serão críticas para que possamos desvendar essa evolução inicial dos voláteis da Terra, testando nossas suposições de modelo”, diz Green.

O estudo científico foi publicado no periódico Science Advances. Com informações de NASA e The Conversation.

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