Os poríferos, vulgarmente conhecidos como esponjas, foram os primeiros animais a surgirem no planeta. Sem poder se mover ou pensar, esses organismos podem não chamar tanto a atenção do público ou de pesquisadores. Contudo, uma equipe de cientistas pode ter descoberto as origens do sistema nervoso dos animais. E em uma esponja.
O trabalho, publicado no periódico Developmental Biology, não apenas relata a descoberta de diversos grupos de células de poríferos. Os cientistas realizaram, ademais, um mapeamento de ao menos 18 tipos celulares presentes na espécie de esponja Spongilla lacustris.
A espécie de cor verde limão habita as águas doces do hemisfério norte do planeta, e em geral não se destaca por si só. Contudo, a equipe identificou que algumas células da Spongilla lacustris são capazes de enviar sinalizações a outras células.
Essa sinalização acontece, segundo os autores, por meio de vesículas celulares carregando sinalizadores bioquímicos que podem, por exemplo, aumentar ou diminuir a atividade de outras células. Uma vesícula, vale comentar, é uma espécie de bolha formada por camadas de lipídeos dentro da célula.
Todavia, é bastante estabelecido que os poríferos não têm um sistema nervoso definido, apesar de terem certas células nervosas. Nesse caso, os autores identificaram que certas células expressam genes que são essenciais para a sinalização celular em organismos mais evoluídos, como nós humanos mesmo.
O lugar de descoberta destas células, no entanto, foi uma surpresa para os autores. “Nós percebemos, ‘Meu Deus elas estão nas câmaras digestivas.'”, afirma o autor Jacob Musser, ao Science News.
Por que as esponjas têm neurônios nas câmaras digestivas?
A digestão das esponjas é muito diferente do que estamos acostumados para os padrões da espécie humana. Os poríferos na verdade filtram a água à procura de partículas e microrganismos que sirvam para a sua nutrição.
Nesse sentido, as esponjas funcionam como uma bomba de água, sugando a água do oceano para os poros do corpo – daí o nome porífero – e expelindo-a pelos ósculos, as aberturas no topo do corpo de uma esponja.
Pense numa esponja como um cilindro cheio de furos. Dentro há uma cavidade por onde a água passa, a qual Jacob Musser se refere como câmaras digestivas. Estas câmaras digestivas possuem células especializadas e flageladas chamadas de coanócitos.
Os coanócitos movimentam seus flagelos para estimular a passagem da água pelos poros e, assim, aumentar a filtração da água e obtenção de alimento. A equipe de pesquisadores descobriu, portanto, células nervosas chamadas de neuróides associadas aos coanócitos.
Ou seja, os resultados sugerem que os neuróides podem ter a função de estimular ou desestimular o metabolismo dos coanócitos ou outras células. Em outras palavras, esse rascunho de sistema nervoso primitivo pode ser uma forma de controlar diversas funções corporais da esponja de forma mais ou menos coordenada.
“O que os animais tinham, antes de terem um sistema nervoso? Não há muitos organismos que podem nos dizer isso. Esponjas são um deles.”, conclui Musser.
A pesquisa está disponível no periódico Developmental Biology.