Pesquisadores acabam de realizar a conservação mais longa de esperma de mamíferos no espaço. O material reprodutivo estava na Estação Espacial Internacional desde 2013 para avaliar a viabilidade do esperma após longos períodos fora da Terra. Assim, pesquisadores conseguiram gerar filhotes saudáveis mesmo após 6 anos das células no espaço.
Uma das ideias que tem tomado o palco da ficção científica e da própria ciência é a colonização do espaço. Contudo, as viagens espaciais ainda são muito dispendiosas, e devem continuar assim ainda por algumas décadas. Portanto, transportar animais vivos é impensável em longas viagens pelo sistema solar.
Além do mais, é possível que precisemos criar naves com material genético de outros animais – e mesmo o nosso – para outros planetas e galáxias. Isso teoricamente resolveria o problema do tempo de viagem espacial, mas com certeza está longe de acontecer.
O que pesquisadores fizeram, então, foi testar quais seriam os efeitos do espaço em células germinativas (do esperma) na ISS. Desta forma, a equipe mandou metade das amostras coletadas para o espaço, enquanto a outra metade ficou na Terra. Ainda os pesquisadores compararam esses dois grupos com amostras de esperma recém-coletado.
Após 1, 3 e 6 anos, respectivamente, uma parte das amostras voltou do espaço para passar por testes de viabilidade. Assim, após cada um desses períodos, os cientistas inseminaram óvulos com os materiais armazenados no espaço, na Terra e o recém-coletado.
Surpreendentemente, as células germinativas que passaram os seis anos no espaço ainda estavam altamente viáveis depois da estadia na ISS.
O problema da radiação para as células somáticas e do esperma
Além da gravidade, o espaço ainda tem o problema da radiação. Na órbita da Terra, a ISS ainda permanece protegida da maior parte da radiação espacial. Por esse motivo, os resultados ainda precisam de muito mais verificações acerca da quantidade de radiação que os gametas receberam.
Contudo, o que os pesquisadores fizeram foi congelar o esperma em nitrogênio líquido. Ademais, os gametas passaram por uma exposição ao vácuo para retirar toda a água. Assim, após o processo, o material tinha aspecto de “pó de café”, como definem os pesquisadores.
O que acontece é que o metabolismo dos espermatozoides ficou paralisado. Ainda assim os gametas continuaram recebendo radiação e sujeitos a mutações. O esperma que ficou aqui na terra também passou por emissões de raios-x. Estas, de fato, aumentaram a taxa de mutações do DNA, mas não acarretaram problemas mais sérios na primeira geração de ratinhos.
Para ter uma análise mais completa, os pesquisadores querem ainda avaliar mais gerações dos mesmos animais, para entender possíveis outras variações fenotípicas e genotípicas.
O artigo está disponível no periódico Science Advances.