Quanto mais ao sul na América do Norte, maior a quantidade de lobos pretos, enquanto populações de lobos próximas do Ártico são de cores mais claras, principalmente cinza. Um novo estudo agora indica que epidemias podem ser o motivo para essa variação nas cores dos animais selvagens.
Analisando 12 populações de lobos da América do Norte, a equipe de pesquisadores conseguiu coletar dados de aproximadamente 20 anos destes animais. O fato de haver a variação de cores ao longo do continente já era conhecida há bastante tempo, mas agora a equipe testou uma hipótese nova: de que doenças poderiam levar à prevalência de lobos pretos ou cinzas.
De acordo com o artigo, publicado na Science em outubro de 2022, a cor dos animais pode estar relacionada com a resistência a doenças respiratórias, principalmente a Cinomose, causada pelo vírus CDV.
Por conseguinte, a cor dos lobos é determinada pelo gene chamado CPD103, que possui duas variações. Vale lembrar que cada gene possui dois alelos – duas cópias do mesmo gene – cada uma vinda de um dos progenitores. Um alelo dominante mutante do gene CPD103 faz com que o lobo tenha a cor preta, enquanto a ausência desse alelo mutante leva à cor cinza.
Acontece que a pesquisa descobriu que este gene está ligado a um mecanismo de resistência a Cinomose. Os dados coletados dos animais mostraram que grande parte dos lobos pretos tinham anticorpos contra a doença. Ou seja, os lobos pretos contraíram a doença mas não morreram.
Ainda, lobos pretos são mais comuns em lugares onde conhecidamente houveram epidemias de Cinomose. Lobos cinzas, por outro lado, são mais abundantes onde a doença é menos prevalente, e também raramente apresentam antígenos contra a doença.
Origem das epidemias de Cinomose
A Cinomose é uma doença que acomete diversos mamíferos, mas principalmente canídeos, com taxas bastante altas de mortalidade para animais não vacinados. O vírus CDV infecta principalmente as vias aéreas e gastrointestinais, e é transmitido por vias respiratórias principalmente.
Estima-se que a doença esteja presente em populações selvagens e domesticadas há milhares de anos, e que a doença tenha chegado à América do Norte por meio de cães domésticos e, posteriormente, contaminado animais selvagens. Curiosamente, o gene CPD103 de resistência também veio para a América por meio de cães, antes mesmo da doença chegar ao continente.
“É intrigante que o gene para proteção contra CDV veio de cães domésticos trazidos pelos primeiros humanos a entrar na América do Norte, e a Cinomose emergiu na América do Norte muitos milhares de anos depois, de novo pelos cães [domésticos]” diz o professor de biologia de Penn State, Peter Hudson. “Nós estamos descobrindo que doenças são grandes condutores evolutivos que impactam muitos aspectos de populações animais.”