Dingos são descendentes de cães modernos e lobos selvagens, sugere estudo

Elisson Amboni
Dingos australianos.

Cientistas sequenciaram o genoma de um dingo do deserto (Canis dingo) de uma região remota do sul da Austrália e o compararam com os de cinco raças que abrangem a genealogia do cão doméstico (boxer, pastor alemão, basenji, dogue alemão e labrador retriever).

Os cães são um modelo de grande sucesso para informar o movimento pré-histórico dos humanos, o desenvolvimento da cultura humana e os processos de domesticação.

Os dingos representam uma linhagem única na história canina, pois foram geograficamente isolados de lobos e cães domésticos por milhares de anos. Acredita-se que eles chegaram à Austrália entre 3.500 a 8.500 anos atrás, possivelmente como uma única introdução, e são o principal predador do continente desde a extinção dos tigres-da-tasmânia.

Desde a sua introdução, as populações de dingos foram naturalmente selecionadas para prosperar em uma dieta de marsupiais e répteis.

Os primeiros cães domésticos foram trazidos para a Austrália em 1788 e, com a subsequente expansão dos colonos, o DNA do cão doméstico introgrediu na genética dos dingos.

“A sobrevivência do dingo é fundamental para manter um ecossistema saudável e equilibrado”, disse o professor Bill Ballard da La Trobe University. “Os dingos são os ‘predadores de primeira ordem’ da Austrália, o que significa que influenciam tudo em seu ambiente.”

“Se os dingos não receberem a proteção que merecem, isso afetará o equilíbrio ecológico do país — potencialmente levando a problemas ambientais como erosão e extinção de espécies”, completa.

Em uma nova pesquisa, publicada na revista científica Science Advances, o professor Ballard e seus colegas sequenciaram o genoma de Sandy, um dingo do deserto “puro” que foi encontrado ainda filhote, com apenas três semanas de idade, em uma estrada no deserto central da Austrália, perto de Strzelecki Track, com sua irmã e irmão.

Os pesquisadores alinharam o genoma de Sandy com um lobo-da-Groenlândia e cinco raças de cães domésticos citados no início deste texto. Os resultados mostraram que os dingos puros são um ‘intermediário’ entre lobos e raças de cães domésticos.

“Decifrar o código genético do icônico animal australiano é um avanço para nós”, disse o professor Ballard. “Isso nos dá uma visão muito mais clara de como o dingo evoluiu — o que é fascinante do ponto de vista científico, mas também abre todos os tipos de novas maneiras de monitorar sua saúde e garantir sua sobrevivência a longo prazo.”

“Uma das principais diferenças entre dingos e cães é o número de cópias do gene pancreático ‘amilase’ que cada um possui. Um dingo puro tem apenas uma cópia do gene da amilase, enquanto os cães domésticos têm várias cópias — o que mostramos que influencia o microbioma intestinal e, prevemos, afeta o que os dingos comem”, disseram os pesquisadores.

“Com base nesse novo conhecimento, levantamos a hipótese de que os dingos são muito menos propensos a comer animais de fazenda, incluindo ovelhas. Se estivermos corretos, o que os agricultores atualmente supõem serem dingos matando seu rebanho, provavelmente são cães selvagens.”

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