Enganar chimpanzés com cobras falsas pode ter revelado uma linguagem primitiva

Elisson Amboni
Chimpanzés interagindo. Imagem: iStock

O cenário é a selva de Uganda. Os protagonistas, um grupo de chimpanzés selvagens e uma equipe de pesquisadores da Universidade de Zurique. A trama, uma experiência intrigante envolvendo cobras falsas, sons de alarme e a descoberta de uma linguagem primitiva entre nossos parentes mais próximos.

Para desvendar os segredos da comunicação dos chimpanzés, os cientistas utilizaram uma técnica engenhosa: uma cobra falsa, feita de pele de píton morta, presa a uma linha de pesca. O resultado? Um relato eletrizante de alarmes, chamados de socorro e a surpreendente descoberta de que a ordem dos sons emitidos pelos animais influencia suas reações.

Os pesquisadores já conheciam dois tipos de chamadas entre os chimpanzés: o waa-barks, que convoca ajuda, e o alarm-huus, expressão de susto. Na selva, cada som tem seu significado. Mas a descoberta vai além: é a combinação dessas chamadas que altera o comportamento dos animais.

A cobra falsa era movida entre os chimpanzés, provocando uma cacofonia de waa-barks e alarm-huus. Mas, ao que parece, não era a simples emissão desses sons que ditava a ação, mas a ordem em que eram emitidos. Quando um waa-bark era seguido por um alarm-huus, mais chimpanzés se juntavam ao emissor do chamado, desencadeando a resposta mais forte em termos de alerta.

A complexidade da comunicação entre os chimpanzés é fascinante, e potencialmente fatal. Cobras, invisíveis na densa selva, são uma ameaça constante. Assim, o alarme certo pode salvar vidas, e um chamado mal interpretado pode ser uma sentença de morte.

Ao que tudo indica, a linguagem dos chimpanzés não é formada apenas por palavras individuais, mas sim por “frases” compostas, assim como a nossa. Os pesquisadores compararam a combinação waa-bark e alarm-huus aos nossos ditados “perigo” e “venha aqui”.

O significado dessas combinações de chamadas ainda não é totalmente compreendido. Elas podem significar duas coisas ao mesmo tempo ou expressar uma urgência maior. De qualquer forma, a descoberta da combinação de chamadas na comunicação dos chimpanzés nos leva a crer que “os fundamentos da sintaxe podem ser evolutivamente antigos e presentes em formas mais simples no último ancestral comum de chimpanzés e humanos”.

Assim, uma simples brincadeira com cobras falsas se transforma em uma exploração fascinante da linguagem e evolução. Afinal, quem diria que um dia estaríamos discutindo a sintaxe dos chimpanzés?

Os detalhes deste estudo incrível foram publicados na revista Nature Communications. A lição que fica é a de que, na selva, cada som tem seu significado – e a ordem desses sons pode ser a diferença entre a vida e a morte.

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