Em 40 anos, crianças poderão ter diversos pais biológicos

Mateus Marchetto

A edição genética pode gerar crianças com diversos pais biológicos dentro de 40 anos. Essa é a alegação da futurista Amy Webb em uma recente entrevista ao The Washington Post, no dia 10 de janeiro.

Um futurista, como o nome sugere, é uma pessoa treinada tecnicamente para identificar padrões e estatísticas que possam, de alguma forma, prever coisas que possam acontecer no futuro. Nesse sentido, Amy Webb tem trabalhado nos últimos 15 anos com previsões estratégicas, e é também CEO do Future Today Institute, além de professora da Universidade de Nova York.

Tanto em entrevista quanto em seu novo livro, The Genesis Machine, Webb debate sobre novas possibilidades científicas e sociais que devem emergir principalmente da biotecnologia. Sobre o CRISPR, uma ferramenta de edição genética relativamente acessível, a especialista afirma que as implicações sociais podem ser das mais variadas.

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Imagem: PublicDomainPicture / Pixabay

Um dos exemplos um tanto curiosos usados por Webb para explicar a ideia é que bebês podem ter diversos pais biológicos daqui a algumas décadas. Amy Webb diz que recursos como o CRISPR podem permitir que pais selecionem características genéticas que venham de outras pessoas. Assim, o bebê carregará os genes não apenas dos pais.

Isso permitiria também, segundo a entrevista, que a idade em que a gravidez pode ocorrer também fosse aumentada significativamente.

“Eu acho que possa ser o caso que haja diversos pais [biológicos] para uma criança, ou que uma pessoa de 70 anos e seu parceiro/a de 60 anos decidam ter um bebê. Por que nós nos fecharíamos a essa possibilidades?”

Medicina, alimento e governos totalitários – além de crianças com diverso pais biológicos

Além das implicações na maternidade e paternidade, a especialista afirma que o desenvolvimento tecnológico a passos largos pode melhorar muito a saúde humana e permitir avanços significativos na medicina.

Webb ri quando questionada sobre os possíveis usos dessas tecnologias por governos totalitários, e brinca: “Todas as ruas desse caminho levam à eugenia. Os medos de que será “Gattaca” – nações podem intencionalmente desenhar populações.”

“Olhe, nós precisamos reconhecer as vantagens geopolíticas que alguns países podem tentar [ter] elevando a inteligência e características físicas de sua população.” Todavia, a especialista acredita que os benefícios da tecnologia e ciência devem ser muito maiores do que o risco de um futuro distópico.

Ainda, a tecnologia deve nos colocar em posição de desenvolver novos recursos para a produção de alimento, por exemplo, segundo Webb. Com a iminência da mudança climática, a especialista afirma que plantas resistentes e fazendas cobertas, além de uma mudança na indústria da carne, devem ser o caminho para a alimentação mundial.

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Representações do subcontinente indiano ao longo de centenas de anos. Confira a matéria completa aqui. Imagem: Lyon et al., 2021,/ CC BY-ND

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