Descubra por que o Brasil não produz seus próprios fertilizantes agrícolas

Por que o Brasil não produz fertilizantes agrícolas, ao invés de realizar a importação desses insumos tão importantes?

Felipe Miranda
Plantação de soja. Imagem: Tiago Fioreze.

Desde que a guerra da Ucrânia começou, no início de 2022, o tema tomou bastante espaço na mídia nacional e internacional.

Em 2021, um primeiro revés afetou as importações de fertilizantes. A crise energética na China e a crise política em Belarus, naquele ano, a produção dos insumos agrícolas naqueles países caiu bastante. Assim, os preços subiram, aumentando o preço do alimento no Brasil.

Antes disso, o preço já seguia uma alta devido à pandemia. Em 2022, a guerra da Ucrânia afetou ainda mais o mercado dos insumos agrícolas. Ao final de 2022, alguns preços já estavam se ajustando novamente.

“No Brasil, o cloreto de potássio ficou 150,7% mais caro no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período de 2021, enquanto a média em dezembro de 2022 foi a mais baixa desde julho de 2021. Para o MAP, a cotação média desse fosfatado ficou 66,9% mais cara no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo intervalo de 2021. No encerramento de 2022, registrou-se o menor valor desde fevereiro de 2021”, diz em um artigo o pesquisador Mauro Osaki do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA da ESALQ, que por sua vez faz parte da Universidade de São Paulo (USP).

“Em 2022, em razão do conflito no leste Europeu a importação de fertilizantes pelo Brasil foi antecipada. Enquanto de 2017 a 2021, pouco mais de 70% do cloreto de potássio adquirido pelo Brasil foi alcançado em setembro, em 2022, as compras se concentraram até julho, quando somaram 71,4%. O Brasil elevou a quantidade de cloreto de potássio adquirida do Canadá, Israel e Alemanha em 2022, mas reduziu as compras da Rússia e de Belarus”, explica Osaki.

O Brasil não produz fertilizantes agrícolas – mas para que essa dependência?

Por que o Brasil não produz fertilizantes agrícolas se depende tanto assim da agropecuária?

Conforme o Bloomberg, em 1996, metade dos fertilizantes agrícolas utilizados eram importados. Para cada tonelada produzida internamente, outra tonelada era importada. Já em 2021, 25 anos depois, 85% dos fertilizantes utilizados vieram de importação.

Brasil não produz fertilizantes agrícolas
O Brasil não produz fertilizantes agrícolas suficientes para atender o mercado inerno. Imagem: Pixabay.

No ano de 1997, o CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária) zerou o ICMS cobrado de fertilizantes importados. O problema, é que para os fertilizantes nacionais, o imposto foi mantido, em uma taxa de 8,4%, diminuindo a competitividade dos insumos nacionais.

Desde então, o uso dos insumos nacionais foi caindo.

Em 2018, a Petrobrás saiu do ramo de insumos agrícolas para se concentrar nos setores de petróleo e gás natural. Um detalhe importante nisso é que a Petrobrás já foi a maior produtora mundial de nitrogenados.

Assim, diversas fábricas e refinarias foram vendidas, arrendadas e foi realizado um processo de desinvestimento em empresas do ramo.

Outra grande empresa que realizou um processo de desinvestimento na área dos insumos agrícolas foi a mineradora Vale.

Um dos maiores compradores das fábricas vendidas pelas companhias brasileiras foi o grupo Acron, que é um grupo russo, inclusive. Ou seja, como se não bastasse as importações dos insumos, as fábricas nacionais foram colocadas sob controle russo. No entanto, desde que a guerra começou, essas negociações foram atrapalhadas.

Há diversos fatores que acarretaram nesse cenário atual dos fertilizantes. A Petrobrás abandonou os investimentos na área, em partes, pelos efeitos da Lava Jato, que demonstraram superfaturamentos e crimes fiscais. Em 2015 a Petrobrás registrou um prejuízo de quase 40 bilhões de reais.

Além disso, outro fator é a falta de competitividade de preços. A Rússia detém uma enorme reserva de gás natural, insumo muito utilizado na produção dos fertilizantes.

Outros materiais importantes na fabricação dos fertilizantes, o potássio e o fósforo, são pouco abundantes no Brasil, que detém apenas 3% das reservas mundiais. 80% dessas reservas estão apenas na Rússia, Belarus e Canadá, países que lideram a produção dos fertilizantes agrícolas no mundo.

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