Descubra o processo de fabricação da seda e o dilema ético de suas origens

Elisson Amboni
Casulos de bichos-da-seda. Imagem: Getty Images

A seda é um tecido sem igual, que desde tempos antigos desperta fascínio e cobiça. Símbolo de status e luxo, esse material era antigamente venerado por aristocratas romanos e árabes, um privilégio que realçava não só a beleza e conforto, mas também a durabilidade que o distinguia de todos os outros tecidos. A escassez com que se encontrava no mercado apenas intensificava seu valor e desejo entre as mais altas esferas sociais.

Mantido sob sigilo durante mais de um milênio por antigos artesãos chineses, o método de produção da seda representava um trunfo para a China. Este segredo contribuía decisivamente para a posição do país como principal player no comércio global, em uma época em que a seda viajava por milhares de quilômetros através da lendária Rota da Seda. Tão valorizado era este material que, em certas circunstâncias, assumia o papel de moeda, possuindo equivalência ao ouro em peso. Com efeito, a persistente busca humana por esse tecido grandioso faz com que ele continue sendo um emblema de refinamento e posição social ainda hoje.

Qual a origem da seda?

A seda é uma estrutura fibrosa originada da saliva de pequenos insetos conhecidos como bichos-da-seda (Bombyx mori). No início da vida do bicho-da-seda, esse ser é capaz de tecer um fio contínuo de seda pelas suas glândulas sericígenas, resultando na formação de um casulo protetor para o seu estágio de metamorfose em mariposa.

A técnica para extrair seda desses casulos é conhecida por sericicultura, uma prática milenar. Agricultores proporcionam um ambiente controlado para que as mariposas depositem seus ovos em papel especial, propiciando a eclosão das larvas. Essas são alimentadas exclusivamente com folhas de amoreira, e após aproximadamente 35 dias de crescimento, estão prontas para tecer seus casulos.

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Bicho-da-seda. Imagem: Shutterstock

O processo tradicionalmente inclui a eliminação do bicho-da-seda, efetuada por meio de fervura ou vapor, antes da finalização do casulo. Isso não só encerra a vida do inseto, mas também amolece uma substância química denominada sericina, que, se não tratada, faz com que a seda se torne mais dura após a formação do casulo. O passo seguinte é o desenrolamento dos casulos, que são delicadamente desfiados em uma única e extensa fibra, que pode alcançar centenas de metros de comprimento. As longas fibras são entrelaçadas para criar o fio de seda, que é posteriormente tecido até se transformar no tecido de seda usado comercialmente.

A seda é vegana?

Tradicionalmente, a seda não se alinha aos princípios veganos. O veganismo exclui o uso de produtos e subprodutos animais, especialmente aqueles que implicam em dano aos animais. A produção convencional de seda envolve processos que são incompatíveis com essa filosofia.

Produção contemporânea da seda

Na fabricação contemporânea de seda, o ciclo de vida do bicho-da-seda domestificado Bombyx mori é rigidamente controlado. Ao atingirem o estágio de crisálida dentro de seus casulos, estes são comumente sacrificados para que a seda seja colhida. Especialistas indicam que cerca de 2.000 a 3.000 bichos-da-seda podem ser mortos para produzir aproximadamente meio quilo de seda. Essa prática tem sido objeto de críticas e discussões éticas, especialmente entre grupos de defesa dos direitos dos animais.

Processo da produção da seda desde as primeiras larvas de bicho-da-seda.

É possível produzir seda de maneira ética?

No Índia, desenvolveu-se um método para colher seda que não prejudica ou mata as larvas do bicho-da-seda. Conhecida como seda ahimsa, este tipo de seda também é chamada de seda ética ou seda da paz. Na produção de seda ahimsa, as práticas tradicionais de sericultura são mantidas, mas as larvas são permitidas a emergir de seus casulos, ou às vezes, os casulos são cortados e as pupas retiradas.

Quando se permite que as pupas eclodam, elas passam aproximadamente 7 a 10 dias adicionais no casulo, o qual começa a endurecer. Isso geralmente resulta em um rendimento menor de seda e fios quebrados em múltiplos segmentos, resultando em um tecido menos fino. Devido à sua complexidade de produção, a seda ahimsa tem custo mais elevado que a seda de criação convencional. Apesar disso, ela vem ganhando popularidade e é considerada uma alternativa viável na indústria da moda.

Por que a seda ainda é tão cobiçada?

A seda continua a ser um tecido muito valorizado, em parte, pela capacidade única de alterar seus tons e cores conforme a incidência da luz. Essa característica se deve às proteínas fibroína, com sua forma triangular, que desviam a luz de maneiras especiais, conferindo-lhe um brilho inconfundível e uma aparência que chama a atenção. Para além de seu apelo estético, a força e a propriedade antimicrobiana da seda a consolidaram como um material de destaque na área da biomedicina. Seus usos históricos na medicina estão sendo ampliados, com estudos recentes investigando sua aplicabilidade na regeneração da pele.

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