Descoberta nova espécie de jacaré Amazônico de 10 milhões de anos

Mateus Marchetto
Um fóssil descoberto há 25 anos foi identificado como uma nova espécie descoberta de jacaré. (Imagem de dpexcel por Pixabay)

A Amazônia é uma das maiores florestas do mundo, com a mais rica biodiversidade do planeta. A Bacia Amazônica é, ademais, o maior conjunto de corpos de água doce e possui o maior rio do globo, o Amazonas. Ou seja, a Amazônia é uma terra de superlativos. Toda essa riqueza geológica é um prato cheio para os mais variados tipos de espécies, incluindo os jacarés. Nesse sentido, pesquisadores brasileiros identificaram uma nova espécie de jacaré que viveu na Amazônia entre 8 e 10 milhões de anos atrás.

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Reprodução do crânio da nova espécie descoberta (JONAS PEREIRA DE SOUZA-FILHO, https://www.biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.4894.4.5)

Pesquisadores batizaram o réptil pré-histórico de Melanosuchus latrubessei, em homenagem ao pesquisador Dr. Edgardo Latrubesse, um geomorfólogo argentino que estudou amplamente a região da Bacia Amazônica. Além do mais, o jacaré é bastante parecido com o jacaré-açu, a maior espécie de jacaré do mundo – mais um superlativo da Amazônia. Das oito espécies de jacaré que existem no mundo, quatro estão presentes na Bacia Amazônica e, nesse sentido, análises genéticas e morfológicas mostraram uma maior proximidade com o jacaré-açu.

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(Imagem de sven kopping por Pixabay)

Vale ressaltar que pesquisadores encontraram o fóssil do animal há 25 anos, mas apenas agora todas as análises estão completas, realmente demonstrando as diferenças da espécie. Esses esforços monumentais aconteceram principalmente por Jonas Filho, da Universidade do Acre, e Lucy Gomes de Souza, do Museu da Amazônia. Outras cinco instituições ainda contribuíram com a pesquisa: o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Laboratório de Estudos Paleobiológicos e a Universidade Federal de Minas Gerais.

O lar do jacaré era um grande pântano Amazônico

Há 10 milhões de anos a Amazônia era um tanto diferente do que é hoje. Contudo, a riqueza da biodiversidade já era marcante desde muito antes disso. A região onde os pesquisadores descobriram o fóssil era especialmente interessante para um jacaré. Isso porque a divisa entre Acre e Amazonas, cortada pelo Rio Purus, recebeu o nome de Grande Pântano devido a esse período pré-histórico. Extensas áreas alagadas por grandes rios e águas calmas, tudo que um jacaré pode querer procurar. Esse ambiente provavelmente fornecia ao bicho grandes peixes, répteis, mamíferos e tartarugas, das quais análises dos dentes provaram que ele se alimentava.

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(Imagem de luis deltreehd por Pixabay)

Os estudos ressaltam que a região do Grande Pantano era bastante semelhante ao que se vê hoje no pantanal. Não havia grandes florestas fechadas, mas sim planícies alagadas. Parte da água da região, inclusive, vinha do escoamento da Cordilheira dos Andes, que ainda estava se erguendo nesse época.

O M. latrubessei era, ademais, praticamente do mesmo tamanho dos M. niger modernos (jacaré-açu) e ambos são animais endêmicos da América do Sul. Esse fóssil compõe mais uma peça do quebra-cabeça evolutivo que permite entender os organismos vivos hoje. Os autores do estudo ressaltam que as características dessa espécie pré-histórica refletem diretamente os hábitos e a morfologia dos animais modernos. Isso é uma ferramenta poderosa para entender o funcionamento da evolução na Bacia Amazônica e também para a preservação dos crocodilianos sul-americanos, ameaçados pela perda de hábitat natural.

O artigo está disponível no periódico ZooTaxa.

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