Crocodilos ‘escoltam’ cão e cientistas não sabem por que não o comeram

Daniela Marinho
Imagem: Utkarsha Chavan

Os crocodilos têm a fama – e a natureza – de serem ferozes. É bem verdade que não é nada seguro entrar nas águas que esses animais estejam presentes, pois o ataque é certo, ou quase. Recentemente, um episódio nada convencional envolvendo crocodilos tomou um desfecho inesperado, uma vez que eles pareciam ‘escoltar’ um cachorro para um local seguro, sem intenção de comê-lo, pelo menos não aparente.

Cão é ‘escoltado’ por crocodilos

Crocodilos podem chegar a pesar 1 tonelada e medir 7 metros, possuem uma arcada dentária com 80 dentes e têm uma das mordidas mais fortes e fatais do mundo. Por essas e outras razões, confrontar um animal desse porte está fora de cogitação.

Nesse contexto, não é incomum se deparar com vídeos em que esses animais atacam pessoas ou outros animais; afinal de contas, eles são conhecidos justamente por sua força e ataques estratégicos.

No entanto, um comportamento nada comum foi presenciado em um grupo de crocodilos. A situação aconteceu quando um cachorro fugindo de uma matilha de cães selvagens mergulhou em um rio cheio de crocodilos e, ao invés do cão ser atacado, os crocodilos o conduziram para um local seguro.

Embora inusitado, o comportamento dos répteis aponta para uma série de motivações que podem ter livrado o cachorro de virar o jantar, como aposta Chris Murray, biólogo da Southeastern Louisiana University, como estarem cheios ou se sentirem muito expostos para emboscar a presa. Ou podem ter tido experiências negativas ao tentar comer cães no passado.

O biólogo acredita que o motivo pelo qual os crocodilos não atacaram o cachorro tem a ver com análise de custo-benefício, como acontece o tempo todo na natureza, sobretudo em se tratando de alimentação.

Crocodilos com compaixão?

Algumas imagens do ocorrido foram divulgadas por pesquisadores no Journal of Threatened Taxa. Na ocasião, eles estavam estudando o comportamento de crocodilos assaltantes no rio Savitri, em Maharashtra, na Índia. 

No estudo elaborado, os pesquisadores relataram que “Esses crocodilos estavam na verdade tocando o cachorro com o focinho […] aparentemente cutucaram e escoltaram [o cachorro] para um local seguro”.

Desse modo, os pesquisadores parecem ter uma opinião mais inclinada para uma possível compaixão por parte dos répteis, ao contrário do que acredita Murray.

Algumas regiões costeiras tanto da Índia quanto do Sri Lanka abrigam consideráveis ​​populações de crocodilos conhecidas por conviverem em proximidade com assentamentos humanos.

Esse contexto peculiar resultou na ocorrência de ataques a seres humanos com uma incidência que se destaca como uma das mais elevadas na escala global, conforme enfatizou Murray: “Portanto, acho altamente improvável a compaixão dos crocodilianos.” 

Cognição subestimada

Crocodilos escoltam cao 1
Imagem: Utkarsha Chavan

Ainda que não concorde com os pesquisadores no sentido de que os crocodilos possam ser compassivos, o biólogo concorda com os autores do estudo no que diz respeito ao fato das pessoas subestimarem a cognição dos crocodilos.

Murray possui conhecimento de relatos sobre crocodilianos que forneceram uma capacidade notável de adaptação, exemplificada por seu uso estratégico de pedaços de paus para atrair aves.

Essa colaboração entre crocodilianos, onde indivíduos auxiliam outros membros do grupo na obtenção de alimentos, destaca-se como um comportamento de destaque em seu repertório.

Além disso, Murray testemunhou, ao longo de sua pesquisa, casos emblemáticos nos quais crocodilianos evidenciaram a habilidade de aprender com experiências passadas, ressaltando, assim, a capacidade de aprimoramento de suas estratégias comportamentais com base em lições adquiridas ao longo do tempo.

De acordo com Murray, “Acho que algumas dessas coisas são predominantemente anedóticas, obviamente, e tenho algumas dessas anedotas para mim […] Portanto, acho que a capacidade cognitiva deles – de avaliar o que está ao redor e sua memória – é muito melhor do que acreditamos […] Eles não são apenas répteis malvados e pesados”. Contudo, provavelmente não têm piedade de cães em perigo. 

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