Crânio do Peru doado a um museu é uma relíquia ou um objeto falso?

Letícia Silva Jordão
Imagem: Museu de Osteologia

Um antigo crânio do Peru, que foi doado ao Museu de Osteologia em Oklahoma City, e possui um implante de metal no seu interior, pode representar as primeiras evidências de um antigo implante cirúrgico aplicado no Peru.

Além do implante, o crânio também possui um orifício abaixo do metal que provavelmente foi criado através de uma trepanação, que é quando um buraco é feito no crânio de uma pessoa para tratar uma lesão ou condição médica, sendo que essa é uma prática muito comum no mundo antigo, assim como a origem do formato em cone do crânio.

Por mais que o formato pareça incomum, ele é, na verdade, fruto de uma prática que os peruanos tinham nos tempos antigos, onde eles apertavam as cabeças das crianças com faixas para fazer com que elas ficassem nesse formato.

Porém, mesmo com essas evidências, a autenticidade do crânio ainda não foi comprovada, já que os especialistas do museu não conseguem conferir a veracidade do artefato. Até agora, nenhuma datação por carbono foi efetuada, e o crânio do Peru ainda precisa passar pela análise de um arqueólogo.

Autenticidade do crânio do Peru é questionada

Cientistas e pesquisadores já se posicionaram sobre o crânio, e disseram em comunicado qual era a sua opinião sobre a autenticidade do artefato. Porém, a opinião de especialistas de fora do museu continua sendo mista, sem um acordo em comum;

John Verano, um professor de antropologia da Universidade de Tulane, em Louisiana, disse que tem dúvidas quanto à autenticidade do artefato, onde relatou acreditar que o implante trata-se de uma possível falsificação moderna. “Em poucas palavras, acho que isso é algo fabricado para tornar o crânio um colecionável mais valioso” disse ele.

Verano é um cientista experiente quando o assunto são crânios, sendo que ele já examinou diversos crânios andinos que possuem implantes de metal e publicou um artigo em 2010 sobre o assunto no International Journal of Osteoarchaeology.

Além de Verano, a professora de antropologia Danielle Kurin da Universidade da Califórnia disse em comunicado que “seria útil fazer uma radiografia do crânio para determinar se o pedaço de metal está cobrindo um buraco de trepanação e/ou uma fratura craniana aberta”.

Segundo a professora, existem casos de descobertas anteriores onde após uma trepanação, um pedaço do osso da pessoa foi colocado em um buraco já cortado. O professor de antropologia da SUNY Cortland, Kent Johnson, também disse que o implante tem chances de ser autêntico, mas que é necessário a realização de testes.

No final, independente do crânio do Peru ser autêntico ou não, todos os especialistas concordam que a pessoa em questão sobreviveu a uma lesão horrível. “É justo descrever esse indivíduo como um sobrevivente. Há um trauma extenso no lado direito do crânio afetando os ossos frontais, temporais e o parietal direito” disse Johnson. “Há evidências de cura onde as bordas dos ossos fraturados tiveram tempo suficiente para crescer novamente.”

Mesmo com as opiniões geradas na comunidade científica, ainda não está claro quando o Museu de Osteologia realizará os testes no crânio do Peru para atestar a sua autenticidade.

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