Conheça o impressionante cofre de sementes do ‘Fim do Mundo’

Daniela Marinho
Imagem: Shaliz Barzani / Crop Trust

No Ártico norueguês, um impressionante edifício cinza em cunha sobressai de uma montanha. A gelada neve sopra sobre uma pequena ponte de metal que leva até à porta da entrada, acima da qual um padrão de aço, espelhos e prismas refletem uma luz verde bastante peculiar. O edifício em questão é o impressionante cofre de sementes do “Doomsday”.

Grandes letras na lateral indicam uma coleção preciosa contida ali – a entrada do “Svalbard Global Seed Vault”. Poucas pessoas podem entrar no local que possui cinco portas de metal, abertas algumas vezes por ano apenas para novas sementes. No entanto, em comemoração ao seu 15º aniversário, um tour virtual permitirá uma visão rara do interior do cofre.

Cofre de sementes do juízo final

O cofre de sementes foi esculpido na montanha Plateau, na ilha norueguesa de Spitsbergen. Nele, há mais de 1,2 milhão de amostras de sementes de quase todos os países do mundo, incluindo os recentes depositantes pela primeira vez, Albânia, Croácia, Macedônia do Norte e Benin.

O depósito, no mínimo curioso, foi construído para proteger a biodiversidade das culturas em caso de catástrofe, ele é frequentemente referido como o “cofre de sementes do juízo final”.

Desde a sua criação em 2008, a coleção do cofre de sementes continuou a crescer. Desse modo, ele é a maior reserva de segurança global de sementes para alimentos e rações, de acordo com o governo norueguês.

Diante de um mundo onde guerras e eventos climáticos extremos causam tantos danos, as pessoas que administram o cofre de sementes dizem que ele é um importante símbolo de cooperação e comunidade global.

Brian Lainoff, ex-coordenador principal de parcerias do Crop Trust, disse que “As sementes não se importam com o fato de haver sementes norte-coreanas e sul-coreanas no mesmo corredor […] Elas estão frias e seguras lá em cima, e isso é tudo que realmente importa.”

Backup global

cofre de sementes
Prateleiras dentro de uma das três câmaras do cofre de sementes, cada uma com capacidade para armazenar 3.000 amostras. Imagem: Mari Tefre / Global Crop Diversity Trust

O cofre de sementes do “juízo final” é, na verdade, um armazenamento de backup para uma rede de mais de 1.700 cofres menores chamados bancos de genes. Os países depositam cópias de suas sementes em seus próprios bancos e as instalações em Svalbard mantem todas elas em segurança.

Este ano, novas sementes de morangos silvestres, trigo, milho e arroz foram depositadas, juntando-se a outras plantas preservadas. Além disso, a Macedônia do Norte depositou sementes de uma variedade de pimenta vermelha ajvarka, usada para produzir um condimento tradicional.

As sementes continuam sendo propriedade do país depositante e podem ser retiradas caso haja comprometimento de seu próprio estoque. Em 2015, as sementes guardadas no cofre foram utilizadas para reiniciar o Centro Internacional de Pesquisa Agrícola nas Áreas Secas, após o abandono de seu banco de sementes em Aleppo durante a guerra civil síria.

A fim de preservar o conteúdo, o cofre no Ártico é protegido por quase 400 pés de rocha em seu ponto mais profundo. As prateleiras do chão ao teto dentro do cofre têm espaço para milhares de caixas de sementes e, mesmo virtualmente, são uma visão impressionante.

Catedral gelada

De acordo com Lise Lykke Steffensen, diretora executiva da NordGen, o banco de genes dos países nórdicos que lida com a operação diária do cofre, estar no cofre de sementes “É um pouco como estar em uma catedral. Tem tetos altos e quando você está dentro da montanha, quase não há som. Tudo o que você pode ouvir é você mesmo […] Quando você abre a porta, está 18 graus Celsius negativos – o padrão internacional para a conservação de sementes – o que é muito, muito frio. Então você vê todas as caixas com sementes de todos esses países.”

Stefan Schmitz, diretor executivo da Crop Trust e co-gerente do cofre de sementes disse que ““Daqui em Svalbard, o mundo parece diferente. Este cofre de sementes representa esperança, união e segurança […] Em um mundo onde as catástrofes naturais e os conflitos desestabilizam cada vez mais nossos sistemas alimentares, nunca foi tão importante priorizar a salvaguarda dessas pequenas sementes que têm tanto potencial para adaptar nossa alimentação futura a essas ameaças globais.”

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