Conheça a Petrovita: um novo mineral descoberto na Rússia

Mateus Marchetto
Imagem: Filatov et al., Mineralogical Magazine, 2020

A Rússia é muito rica em vulcões. A região da Sibéria, sobretudo, possui muitos vulcões ativos. Inclusive, acredita-se que erupções dessa região podem ter causado extinções em massa no passado. Contudo, os vulcões podem produzir mais que extinções. Eles são responsáveis por formar minerais e pedras preciosas também. Justamente por isso, cientistas russos descobriram um novo mineral: a Petrovita.

Os pesquisadores encontraram esse composto no topo do vulcão Tolbachik, na península de Kamchatka. O Tolbachik tem ainda atividade bastante intensa. Aliás, a última erupção ocorreu em 2012. Essa última erupção revirou as cinzas e detritos do vulcão. E foi nesses escombros que os cientistas encontraram um mineral com uma cor azul-esverdeada intensa, segundo relatado no artigo científico que está disponível no periódico Mineralogical Magazine.

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Imagem: Pixabay

A Petrovita tem, nesse sentido, um arranjo estranho de átomos. Nesse composto, um átomo de cobre faz ligações coordenadas com outros 7 átomos de oxigênio. Acredita-se que esse composto se forma pela precipitação dos gases vulcânicos.

Apesar de peculiar, todavia, a Petrovita não é o único composto estranho dessa região. Nos últimos anos, em torno de 130 outros novos minerais foram descobertos na região. Isso tem relação, aliás, com tanta atividade vulcânica.

Por que tantos minerais e pedras preciosas saem de vulcões?

Como dá para imaginar, um vulcão é um lugar bem extremo. A temperatura da lava expelida de um vulcão pode passar dos 1200°C. Nesse sentido, quanto mais profundo na crosta, maior a temperatura. Acontece que os vulcões são vias de escape do magma. Quando a temperatura fica muito quente no manto, as rachaduras na crosta podem formar um caminho para o magma sair – e aliviar a pressão.

Essa mesma pressão, além do mais, ajuda também a formar compostos tão diferentes. Isso porque sob altas pressões os átomos acabam se organizando de forma diferente. É assim, por exemplo, que o diamante pode se formar. O que diferencia um grafite de um diamante, então, são apenas algumas pressões e temperaturas absurdamente altas.

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Imagem: Pixabay

Além das pedras preciosas, muitos minerais diferentes também podem se formar nessas regiões. O motivo, inclusive, é o mesmo. As altas temperaturas e pressões forçam os átomos a fazer ligações que não aconteceriam em condições ambiente. Assim, por exemplo, as sete ligações com o oxigênio podem ter surgido na Petrovita.

Para que serve um novo mineral

A descoberta ainda é bastante recente. No entanto, cientistas acreditam que talvez esse novo mineral possa ser usado em baterias de íons de sódio. Essas últimas ainda estão em desenvolvimento e ainda podem se tornar mais acessíveis que as de lítio. Acontece que a Petrovita é um material bastante poroso. Esses poros podem formar um caminho para os íons de sódio.

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Imagem: Filatov et al., Mineralogical Magazine, 2020

O desafio, nesse caso, é apenas aumentar a condutividade do material. Além do mais, ainda é preciso encontrar uma forma barata de sintetizar esse mineral em laboratório.

Essa descoberta é mais um grande resultado dos 40 anos de estudo dos vulcões de Kamchatka. A pesquisa dessas áreas pode fornecer recursos valiosos para a tecnologia moderna e também para a sustentabilidade. Isso ocorre justamente pelos vulcões serem regiões tão imprevisíveis e difíceis de simular.

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