A Terra pode estar na 7ª, e não na 6ª extinção em massa

Havia uma extinção em massa escondida e que ocorreu antes de todas as outras.

Felipe Miranda
Imagem: Shutterstock

Estamos enfrentando uma extinção em massa. Isso está se tornando consensual, e a culpa disso tudo é da humanidade. Muita biodiversidade — entre espécies animais e vegetais, fúngicas e microscópicas, estão sendo extintas por nossa exploração inconsequente da natureza; a cada ano, milhares de espécies somem do mapa. No entanto, pode haver uma pequena mudança nisso. Diz-se que estamos na sexta extinção em massa. Mas pode ser que estejamos, na verdade, enfrentando a sétima extinção em massa do planeta Terra.

Em novo estudo que foi publicado no início de novembro no periódico Proceedings of the National Academy ofSciences (PNAS), uma equipe de pesquisadores da Universidade de Califórnia, em Riverside, e da Virgínia Tech, ambas nos Estados Unidos, descreve uma possível extinção em massa que ocorreu há 550 milhões de anos. Note, no entanto, o termo ‘possível’ no raciocínio anterior. Ainda não está claro se se trata, realmente, de uma extinção em massa propriamente dita, embora a perda de organismos é semelhante à de extinções em massa já ocorridas.

Esta pode ser a primeira extinção em massa na Terra, pelo menos entre todas as conhecidas. Ela levou 80% das criaturas do período Ediacarano, período em que viveram as primeiras formas de vida complexas e multicelulares do planeta. Por muito tempo, os únicos seres vivos que habitaram o planeta Terra eram pequeniníssimas criaturas unicelulares.

“Os registros geológicos mostram que os oceanos do mundo perderam muito oxigênio durante esse tempo, e as poucas espécies que sobreviveram tiveram corpos adaptados para ambientes de baixo oxigênio”, disse em um comunicado o coautor do estudo e paleoecologista da Universidade da Califórnia Chenyi Tu.

“Suspeitamos de tal evento, mas para prová-lo tivemos que montar um enorme banco de dados de evidências”, disse a paleoecologista, também da UCR, Rachel Surprenant.

Já se sabia, anteriormente, que uma grande perda de vida ocorreu nesse período. No entanto, isso não era atribuído a uma extinção em massa. As criaturas desse período eram “moles”, e não ficaram bem registradas em fósseis. Essa é uma das razões pelas quais essa potencial extinção em massa demorou a ser descoberta. Os cientistas precisaram documentar quase todos os animais ediacaranos conhecidos, junto às características corporais, alimentares e de hábitos.

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Representação das criaturas marinhas do período. Imagem: Smithsonioan Institution

“Podemos ver a distribuição espacial dos animais ao longo do tempo, então sabemos que eles não apenas se mudaram para outro lugar ou foram comidos — eles morreram. Nós mostramos uma verdadeira diminuição na abundância de organismos”, disse Chenyi.

“Examinamos o padrão de seletividade — o que foi extinto, o que sobreviveu e o que floresceu após a extinção”, disse ao LiveScience Shuhai Xiao, um dos coautores do estudo e professor de geobiologia da Virginia Tech. “Acontece que os organismos que não conseguem lidar com baixos níveis de oxigênio foram removidos seletivamente”.

Os animais da época se moviam, mas não com pernas. Eles eram muito diferentes do que vemos hoje na Terra. Até mesmo a forma como se alimentar era diferente. Eram o início de tudo. Por isso que se acreditava, anteriormente, que essa perda de biodiversidade ocorreu pela chegada de novos predadores, mais ágeis, como uma nova etapa no desenvolvimento da vida complexa na Terra.

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Fóssil de um Dickinsonia Costata, uma das criaturas do período Ediacarano. Imagem: Verisimilus / Wikimedia Commons

“Esses animais foram o primeiro experimento evolutivo na Terra, mas duraram apenas cerca de 10 milhões de anos. Não muito tempo, em termos evolutivo”, disse a paleoecologista Mary Droser, líder do estudo.

No estudo, os pesquisadores descrevem que foi encontrado um “suporte para a diminuição da disponibilidade global de oxigênio como o mecanismo responsável por essa extinção”. Não se sabe, no entanto, o que ocorreu para ocasionar essa diminuição de oxigênio em uma escala tão grande.

“Nada está imune à extinção. Podemos ver o impacto das mudanças climáticas nos ecossistemas e devemos observar os efeitos devastadores à medida que planejamos o futuro”, disse Phillip Boan, geólogo da UCR, também um dos coautores do estudo.

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