Como a titanoboa, uma cobra de 14 metros, foi descoberta

Mateus Marchetto
Imagem: Momotarou2012 / Wikipedia Commons

14 metros, quase duas toneladas. Quem ouve essas medidas pode pensar num pequeno ônibus, talvez num dinossauro. Contudo, esse foi o tamanho da maior cobra já descoberta, Titanoboa cerrejonensis. Essa descoberta, inclusive, envolveu mais de 10 anos de pesquisas e exploração.

Cerrejón é uma mina de carvão a céu aberto localizada na Colômbia. Por muitos anos, as imensas máquinas de extração de carvão de Cerrejón vêm revirando solos profundos que datam de milhões de anos. Até 2003, todavia, pesquisadores apenas haviam encontrado fósseis vegetais e de pequenos animais na mina.

Não se engane em pensar que a mina era pobre em registros fósseis, contudo. Em uma expedição de quatro meses nos territórios de Cerrejón (maiores que a área de Washington D.C) o pesquisador Fabiany Herrera e sua equipe identificaram fósseis de mais de 2000 espécies vegetais, muitas relacionadas a espécies atuais da Amazônia.

Apesar da abundância vegetal, por muito tempo cientistas não encontraram muitos espécimes de vertebrados terrestres na região. A partir de 2004 esse cenário começou a mudar, com a coleta de diversos fósseis de grandes vertebrados amazônicos pré-históricos nas terras cinzentas de Cerrejón.

Dentre eles estavam tartarugas de água doce e crocodilos com tamanhos bastante maiores do que seus descentes modernos. além disso, vértebras misteriosas coletadas na mina ainda antes dos anos 2000 não se encaixavam com a anatomia de crocodilos ou tartarugas.

Após análises cuidadosas e consultas a especialistas ao redor do planeta, cientistas descreveram o dono destas vértebras e também de um crânio posteriormente descoberto. A titanoboa, nesse sentido, foi uma cobra constritora da família das jiboias e sucuris modernas.

Essa espécie gigante, ademais, forneceu informações importantes sobre o clima e a diversidade da Amazônia há 58 milhões de anos.

Topo da cadeia alimentar ocupado pela titanoboa. E o clima com isso

Répteis são animais de sangue frio. Ou seja, por não produzirem calor significativo a partir de seu próprio metabolismo, esses bichos dependem do calor do ambiente – do sol principalmente – para sobreviver.

Titanoboa Size and Giraffe Size
Imagem: 08pateldan / Wikipedia Commons

Para alcançar tamanhos tão absurdos, portanto, a titanoboa provavelmente habitava florestas bastante mais quentes do que aquelas que temos hoje nos trópicos. Ainda não há consenso, contudo, sobre o quão mais quente a Amazônia era no período após a extinção dos dinossauros.

A titanoboa, vale comentar, surgiu há mais ou menos 58 milhões e foi o maior predador do seu ecossistema por pelo menos 10 milhões de anos. Essa cobra gigante poderia facilmente devorar crocodilos inteiros e outras presas massivas, já que o diâmetro do seu corpo podia ter mais de 1 metro e sua mandíbula podia abrir em ângulos assustadores.

Como pesquisas recentes reforçam, o meteoro que extinguiu os dinossauros desencadeou um aquecimento do planeta que permitiu que diversas grandes florestas tropicas florescessem, como a Amazônia.

Estas florestas foram, por milhões de anos, mais quentes e muito mais úmidas do que as florestas tropicais modernas que ocupam as mesmas regiões. Isso permitiu o surgimento de um predador tão formidável e versátil como a titanoboa, além de outros gigantes que ocupavam os mesmos ambientes.

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