Como a IA impulsionou a Shein e agravou a crise ambiental do Fast Fashion

Daniela Marinho
Os trabalhadores das fábricas que fornecem para a Shein frequentemente enfrentam jornadas de trabalho de 75 horas por semana, mesmo um ano após a empresa ter se comprometido a melhorar as condições laborais em sua cadeia de suprimentos. Imagem: Jade Gao / Getty Images

Não é exagero dizer que “todo o mundo” ouviu falar sobre a Shein ano passado – as redes sociais foram fundamental para isso. Em 2023, a empresa se destacou como uma das maiores forças do fast fashion, com sua presença sendo sentida em diversas partes do globo.

Em cada transação da marca, enormes quantidades de dados foram geradas, encontradas e análises de forma estratégica. Para administrar esse fluxo contínuo de informações, o setor de moda rápida começou a adotar novas tecnologias básicas em inteligência artificial (IA).

Desse modo, a Shein, em particular, utiliza ferramentas avançadas de aprendizado de máquina — algoritmos sofisticados que identificam padrões — para monitorar as preferências dos clientes em tempo real e antecipar a demanda. Com isso, a empresa ajusta sua produção com precisão, aprimorada por uma cadeia de suprimentos ágeis que responde rapidamente às tendências do mercado.

No entanto, com a evolução da inteligência artificial, a produção de roupas econômicas e modernas nunca foi tão rápida. A Shein, assim como outras marcas do setor, enfrenta uma pressão crescente para adotar práticas mais sustentáveis. Em resposta a esse desafio, a empresa se compromete a reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 25% até 2030, com a ambição de alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Shein dobrou suas emissões de dióxido de carbono entre 2022 e 2023

Especialistas do clima apontam que as práticas de produção extremamente rápidas da Shein, juntamente com seu modelo de negócios online, são essencialmente responsáveis ​​por altas emissões de carbono. Além disso, afirma que o uso de software de IA para agilizar essas operações pode estar exacerbando ainda mais esse problema, resultando em um aumento nas emissões da empresa.

De acordo com Sage Lenier, diretor executivo da Sustainable and Just Future, uma organização climática sem fins lucrativos, “A IA permite que a fast fashion se torne a indústria da ultra-fast fashion, com Shein e Temu sendo as líderes disto […] Eles literalmente não poderiam existir sem a IA.”

Fabricação extremamente produtiva e impactos ambientais

Desde sua fundação há 12 anos, a Shein se destacou por sua impressionante capacidade de produção, resultando em uma receita estimada em mais de US$ 30 bilhões em 2023. Apesar das variações nas estimativas, a empresa é capaz de transformar um novo design em uma peça de roupa em apenas 10 dias, com cerca de 10.000 novos itens sendo adicionados ao seu site diariamente.

No total, a Shein disponibiliza até 600.000 produtos para venda a qualquer momento, com um preço médio em torno de US$ 10. A Shein, porém, não confirmou nem negou esses dados. Uma pesquisa revelou que 44% da Geração Z nos Estados Unidos adquire pelo menos um item da marca mensalmente.

Essa operação de larga escala resulta em impactos ambientais significativos. Segundo o relatório de sustentabilidade da empresa, a Shein liberou cerca de 16,7 milhões de toneladas de toneladas de dióxido de carbono em 2023, o que equivale à emissão de mais de quatro usinas de energia a carvão em um ano.

A empresa também recebeu críticas por sua contribuição para o desperdício têxtil, a poluição por microplásticos e práticas laborais exploratórias. O relatório destaca que 76% dos tecidos usados ​​pela Shein são de poliéster — um material sintético conhecido por liberar microplásticos — e apenas 6% desse poliéster é reciclado.

IA pode ajudar na sustentabilidade

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Fast fashion. Imagem: Canva

O relatório de sustentabilidade da Shein revela que 38% de sua pegada de carbono provém do transporte de produtos, enquanto 61% vem de outras áreas da cadeia de suprimentos.

Embora a empresa seja sediada em Cingapura, a maioria de suas roupas é fabricada na China e enviada aos Estados Unidos, com cerca de 900 mil pacotes despachados diariamente.

Para reduzir sua emissão de carbono, a Shein está implementando um plano de descarbonização e aumentando o estoque em armazéns na América do Norte.

Estudos sugerem que o uso de tecnologias de IA pode ajudar empresas a serem mais sustentáveis ​​e lucrativas, permitindo um monitoramento mais eficaz dos impactos ambientais.

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