A cobra coroada de rim rock (Tantilla oolitica) é a espécie mais rara na América do Norte, e os cientistas não a viam na natureza há mais de quatro anos. Infelizmente, ao ser encontrada este ano num parque da Flórida o espécime não estava em bom estado: era um cadáver.
Um visitante do John Pennekamp Coral Reef State Park encontrou a cobra em 28 de fevereiro; ela tinha engasgado em uma centopeia gigante, ainda parcialmente alojada em seu esôfago (a centopeia também estava morta).
Ainda que a imagem sugira que a cobra possa ter morrido enquanto se engasgava durante essa refeição monstruosa (a centopeia tinha um terço do tamanho da predadora), também é possível que tenha sucumbido a uma dose letal do veneno da criatura, sugerem os pesquisadores em novo estudo publicado no último dia 4 na revista The Scientific Naturalist.
A cobra coroada de rim rock não é venenosa, possui uma cabeça escura e um corpo rosado, que mede entre 15 a 28 centímetros de comprimento, e não está nem perto de estar entre as maiores cobras do mundo. São encontradas apenas na Florida e ao longo da costa sudeste do estado. A espécie é difícil de ser encontrada, pois passa a maior parte do tempo escondida sob folhas ou no solo.
De acordo com Kevin Enge, líder do estudo, é somente quando fortes chuvas as forçam à superfície que elas são vistas.
A cena rara da cobra engasgada
“Para um biólogo de cobras da Flórida, esse achado foi extremamente empolgante”, disse o coautor do estudo, Coleman Sheehy, pesquisador e gerente de coleção do Museu de História Natural da Flórida.
“Temos 15 espécimes da tantilla oolitica preservadas no Museu da Flórida, o que é metade de todos os espécimes dessa espécie vistos em qualquer lugar. Também temos os espécimes holótipo e parátipo, que são os espécimes nos quais a descrição da espécie original se baseia. Contudo, não temos nenhum espécime como esse, que morreu enquanto se alimentava da presa, e acho que ninguém mais tem”.
A cena é extremamente rara, “mesmo para espécies comuns de cobras”, contou Sheehy. “Em toda a nossa coleção, acho que podemos ter outras duas cobras de outras espécies que morreram enquanto se alimentavam da presa”.
Para entender o que de fato matou a cobra, os cientistas usaram tomografia computadorizada aprimorada para enxergar o interior do animal e verificar sua última refeição, sem danificar o espécime fisicamente.
Não se sabe quanto tempo a cobra ficou no chão após morrer, mas o tecido mole ainda estava intacto e em boas condições, o que revelou uma inesperada riqueza de detalhes.
A traqueia estava preservada, por exemplo, e foi possível ver que fora comprimida e obstruída, o que teria levado à asfixia. É comum que cobras engulam presas grandes, e elas podem vomitá-las se for necessário, mas nesse caso o número de pernas da centopeia dificultou o processo.
Outra possibilidade para a morte poderia ser o veneno lançado pela centopeia enquanto era engolida. Os cientistas detectaram um ferimento interno que causou danos, e que por si não era ameaçador, pode ter liberado veneno suficiente para ser fatal.
Contudo, também é possível que a cobra estivesse ferida antes de engolir a centopeia, e o veneno não teria atrapalhado nisso, observam os cientistas. Se esse for o caso, seria indício de que a espécie possui alguma resistência às toxinas de centopeias, uma adaptação da qual suspeitavam, mas que ainda não tinham confirmado.