Estudos indicam que os cérebros de aves são extremamente complexos

Mateus Marchetto
Estudos indicam que as aves podem ter uma inteligência muito mais semelhante à dos humanos do que se pensava. (Imagem de Free-Photos por Pixabay)

Por décadas, diversos estudos consideraram as aves como animais cognitivamente menos evoluídos. Contudo, nos últimos anos, muitas pesquisas mostraram como os cérebros das aves são complexos, contrapondo estudos clássicos. Nesse sentido, no dia 25 de setembro de 2020 dois estudos mostraram como a estrutura cerebral de aves é extremamente complexa e até mesmo semelhante à dos humanos. Um dos estudos mostra uma estrutura semelhante ao córtex dos mamíferos, presente no cérebro de aves. O segundo, por outro lado, demonstra a consciência sensorial de pássaros da família dos corvos.

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(Imagem de Free-Photos por Pixabay)

O córtex, por sua vez, é diretamente relacionado ao desenvolvimento da inteligência dos mamíferos. Todavia, as aves não possuem essa porção do cérebro – o que até então era uma pista de uma menor habilidade cognitiva. Contudo, os pesquisadores demostraram como as aves desenvolveram uma estrutura análoga muito importante para a cognição. O pálio é uma porção que pode representar até 75% do volume cerebral das aves é o principal responsável, segundo os autores, pela inteligência quase-humana de algumas aves como corvos e pombos.

A consciência sensorial de um animal também é relacionada ao córtex dos animais. Contudo, os cérebros das aves mostraram uma grande atividade neuronal ao realizar tarefas. Acontece que no cérebro das aves o pálio pode ser uma parte essencial da compreensão do ambiente. Isso permite que corvos possam, por exemplo, tirar conclusões ou mesmo pensar em eventos futuros. Gaivotas, nesse sentido, aprendem a identificar os horários e lugares mais propícios para conseguir roubar alimento.

A evolução do cérebro das aves

Há mais ou menos 270 milhões de anos, centenas de répteis primitivos habitavam o planeta terra. O dimetrodon, por exemplo, era um bicho parecido com um dragão-de-komodo e foi um dos primeiros animais dessa época a ter características que os mamíferos hoje têm, como os dentes diferenciados. Esses répteis antigos e desajeitados provavelmente foram o ancestral comum dos répteis modernos, aves e mamíferos. Assim, esses três grupos apresentam algumas características em comum e, especialmente as aves e os mamíferos são mais recentes numa escala evolutiva.

Como dito antes, conforme os mamíferos foram evoluindo, o córtex foi aumentando e ficando cada vez mais complexo. Isso permitiu que os humanos, por exemplo aprendessem a usar ferramentas e prever eventos futuros, o que nos diferencia da maioria dos outros animais. As aves e mamíferos, ademais, possuem os maiores cérebros em relação à massa corporal, indicando mais uma semelhança com esses animais. Contudo, as aves desenvolveram, ao longo de milhões de anos, estruturas análogas ao córtex dos mamíferos. Assim os pesquisadores puderam identificar o pálio como sendo o principal responsável por algumas aves conseguirem diferenciar pinturas de Monet e Picasso, por exemplo.

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(Imagem de Marjon Besteman-Horn por Pixabay)

Pombos, inclusive, podem aprender a soletrar o alfabeto inglês tão bem quanto crianças de 6 anos de idade. Por tais motivos, os estudos representam um entendimento muito mais profundo a respeito do cérebro das aves. Isso, mais uma vez, vai na contramão de décadas de estudos e pode mostrar como as aves são semelhantes cognitivamente aos seres humanos.

Os artigos estão disponíveis no periódico Science: A neural correlate of sensory consciousness in a corvid bird, A cortex-like canonical circuit in the avian forebrain.

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