Ainda que sejam um dos tipos de animal mais pesquisados no mundo, pode ainda haver centenas de espécies desconhecidas de mamíferos por aí, segundo um novo modelo preditivo.
Machine learning (uma técnica de inteligência artificial) sugere que a maioria dessas criaturas são pequenas, como morcegos, roedores e musaranhos. Por serem pequenos, é difícil para os especialistas identificarem diferenças morfológicas, o que acaba por colocar algumas espécies numa mesma classificação, em termos taxonômicos.
“Diferenças pequenas e sutis na aparência são mais difíceis de se perceber quando se olha para um animal pequeno que pesa 10 gramas do que quando se olha para algo que tem tamanho humano”, explicou o biólogo Bryan Carstens, da Ohio State University.
“Você não consegue perceber que são espécies diferentes, a não ser que faça uma análise genética”.
Os cientistas se referem a essas espécies ocultas como “curingas da biodiversidade”. A não ser que saibamos que elas existem, não podemos considerá-las em estudos de teoria evolucionária, cadeias alimentares e trabalhos de conservação.
Onde estão as centenas de espécies desconhecidas de mamíferos
Segundo os modelos preditivos mais recentes, mais de 80% dos mamíferos provavelmente já foram classificados. Com mais de 6400 espécies registradas, isso significa que ainda há mais de mil desconhecidas por aí.
Usando sistemas de machine learning para analisar sequências genéticas, bem como dados biológicos e geográficos de cerca de 4000 mamíferos, os pesquisadores identificaram quais taxa provavelmente ainda escondem essas espécies.
Desvendando onde essas taxa vivem, os autores conseguiram apontar alguns ecossistemas para futuras pesquisas taxonômicas.
O sudeste asiático, por exemplo, pode ser um local chave para espécies ainda não identificadas de mamíferos. Tanto modelos evolucionários como genéticos estimam que essa região do mundo contém a maior proporção dos curingas de biodiversidade em relação à riqueza de espécies.
Um estudo recente da Indonésia identificou 14 novas espécies de musaranho, a maior identificação de novos mamíferos em detalhes num único artigo desde 1931.
O modelo atual descobriu que, ao redor do mundo, a maior parte dos mamíferos não registrados pertence a ordens que incluem morcegos, roedores, musaranhos e ouriços. Essas ordens também costumam se encontrar em áreas de maior alcance geográfico, com relativa variedade em temperatura e precipitação – como florestas tropicais.
O resultado aponta o que os taxonomistas já esperavam: florestas tropicais, em geral, contêm a maior diversidade de mamíferos no mundo, e desde 1992, a maior parte dos novos mamíferos descobertos foram os pequenos, encontrados em habitats que passam por variações diárias e sazonais de chuvas e temperatura.
Os autores enfatizaram no estudo publicado na PNAS: “Nosso estudo reforça os apelos existentes para um maior investimento em pesquisa taxonômica, particularmente em taxa com poucos estudos e pouca descrição que enfrentam uma extinção silenciosa”.
“Ele sugere que as espécies escondidas existem em locais previsíveis, aguardando por um registro formal”.
Os autores do modelo recente pedem por novos investimentos e interesse na pesquisa taxonômica, para que se possa preencher a lacuna entre o que se sabe e o que ainda está a ser descoberto sobre as centenas de espécies desconhecidas de mamíferos por aí.
“Esse conhecimento é importante para as pessoas que estão fazendo um trabalho de conservação. Não podemos proteger uma espécie se não sabemos que ela existe”, constata Carstens.