Cientistas criam células humanas com “poder da invisibilidade”

Felipe Miranda
A imagem em preto e branco do microscópio de fase acima ajudou os pesquisadores da UCI a identificar onde as nanoestruturas da proteína refletida nas lulas estavam presentes nas células humanas (regiões escuras, com algumas indicadas por setas brancas). O painel colorido mostra o comprimento do caminho associado para a luz percorrer uma determinada área (o vermelho corresponde a comprimentos mais longos e o azul corresponde a comprimentos mais curtos). Crédito: Atouli Chatterjee / UC

Descobertos há cerca de dez anos, um tipo de lula e um polvo, possuem um “poder de invisibilidade”. Não é uma invisibilidade total, como sonham os amantes de ficção, mas é o suficiente para fugir de predadores.

Invisibilidade não é um termo correto. Elas, na verdade diminuem sua opacidade. Transparência é um termo melhor do que invisibilidade para se classificar.

Células humanas transparentes

Agora, uma equipe de cientistas liderada por Atrouli Chatterjee, conseguiu fazer com células humanas algo semelhante do que esses cefalópodes – a lula e o polvo – são capazes.

Para isso, os pesquisadores utilizaram as mesmas proteínas especiais que elas utilizam, e aplicaram em células renais humanas.

As células que a lula utiliza para esse poder são chamadas de leucóforos, um tipo de célula achatada e, que em sua parte externa, junto à membrana celular, possui um tipo de proteína chamada Reflectin.

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Com ela, se pode tanto refletir a luz para chamar atenção, assim como fazem os lagartos planadores, como se pode também desviar a luz de modo que dê uma sensação de transparência.

Lulas possuem o poder da "invisibilidade"
Doryteuthis opalescens paralarva (Créditos da imagem: Todd Anderson/Wikimedia Commons).

Mas como eles deram invisibilidade paras as células?

Para se simular esses leucóforos, eles fizeram algumas alterações genéticas de forma que no desenvolvimento das células renais, elas próprias produzissem a proteína Reflectin.

O resultado foi tão bom que ultrapassou as expectativas. Conforme contou Alon Gorodetsky, co-autor do estudo:

“Ficamos surpresos ao descobrir que as células não apenas expressavam Reflectin, mas também empacotavam a proteína em nanoestruturas esferoidais e as distribuíam pelo corpo das células”.

Ele disse que as células “se comportaram opticamente quase como em seus leucóforos nativos de cefalópodes”.

Eles ainda descobriram que com o sal de cozinha é possível regular essa transparência. Você deve ter aprendido na escola o que é a osmose.

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Grosso modo, a osmose é a troca de água feita pela célula. Se você adicionar uma folha de alface na água com sal, por exemplo, essa folha irá murchar, por causa da osmose.

Isso ocorre porque tudo na natureza tenta se equilibrar. Como a concentração de sal é diferente, a água vai sair de dentro da célula para tentar dissolver esse sal a mais na água externa.

Com esse fenômeno, eles puderam regular o tamanho das células e, consequentemente, o quantidade de luz que passava.

Você deve estar imaginando, no momento, uma aplicação militar para isso, deixando os soldados invisíveis para atacar de surpresas os inimigos. Isso, entretanto, não seria possível por diversos motivos biológicos.

Uma das melhores aplicações para o trabalho é na medicina. Com tecidos laboratoriais invisíveis, pode se identificar determinadas características que não se veem normalmente, utilizando-os como biomarcadores moleculares.

O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

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