Caverna selada por 40 mil anos revela segredos sobre neandertais e hienas

Mateus Marchetto
Imagem: Sascha Hoeges / Pixabay

A caverna Vanguard, em Gibraltar, foi declarada como Patrimônio Mundial da UNESCO em 2016. Além de uma riqueza de registros fósseis e geológicos, pesquisadores acreditaram por muitos anos que a caverna poderia ter outras câmaras. Acontece que os cientistas estavam corretos, uma câmara recém-descoberta esteve selada por 40 mil anos.

Em uma declaração do Museu Nacional de Gibraltar, o órgão comunicou a descoberta recente. Como dito, por muitos anos arqueólogos buscam indícios de câmaras escondidas da caverna, conquanto sem sucesso até então.

De acordo com os especialistas, o novo compartimento da caverna estava bloqueado por sedimentos e areia solidificados. Após retirarem essa “porta” da seção da caverna, os pesquisadores se depararam com uma cavidade com 13 metros de comprimento, subindo em direção ao teto da caverna principal.

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Vanguard Cave. Imagem: Museu Nacional de Gibraltar.

Não surpreendentemente, os pesquisadores também encontraram diversos fósseis nesse novo compartimento. Dentre eles estavam o fêmur de um lince, as vértebras de hienas, a asa de um abutre-fouveiro, por exemplo. Há quatro anos, ademais, a equipe encontrou um dente de leite de uma criança neandertal, próximo à abertura descoberta agora.

Uma parte da parede desta câmara continha, ademais, arranhados de algum animal, provavelmente carnívoro. A equipe suspeita que o lince possa ter sido o responsável, mas sem confirmações ainda.

Contudo, a descoberta mais inusitada entre os fósseis foi um caracol marinho. O molusco estava também na nova câmara que, vale relembrar, era mais alta do que o resto da cavidade. Mesmo a abertura da estrutura principal fica há pelo menos 20 metros do nível do mar. Ou seja, alguém carregou este caracol para lá.

Duas hipóteses sobre os habitantes da caverna

Por vários anos, por conseguinte, pesquisadores também vêm encontrando indícios de neandertais no covil. Certas partes das cavernas têm resquícios de fogueiras e assentamentos de possíveis neandertais, por exemplo.

De acordo com os estudos até o momento, estes hominídeos são os mais prováveis para habitar a região neste período há 40 mil anos. Isso porque os Homo sapiens mal tinham colonizado a Europa nessa época.

Contudo, em determinado momento, a cavidade pode ter sido também um covil de hienas. O dente de criança neandertal, por exemplo, pode ter chegado lá por ação dos animais, que supostamente teriam caçado a criança. Agora os pesquisadores buscam ainda outros indícios ou o resto da ossada dela.

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Imagem: Museu Nacional de Gibraltar

“Ainda estamos procurando lá, mas não havia ocupação de neandertais naquele nível, então nós suspeitamos que as hienas pegaram a criança e mataram ele ou ela e a levaram de volta para a caverna,” afirma o diretor do Museu Nacional de Gibraltar – Clive Finlayson – e também pesquisador no caso, ao The Guardian. “Estamos procurando para ver se há mais dessa criança lá.”

“Conforme nós cavarmos, só vai ficar cada vez maior,” afirma Finlayson à CNN. “Então há chances de termos uma caverna enorme lá. E conforme descemos, pode ainda haver passagens. Então é extremamente animador.”

A declaração da descoberta está disponível no site do Gibraltar Nacional Museum.

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