Causa da morte de baleia choca biólogos

SoCientífica
Plástico sendo retirado do estômago de baleia morta encontrada nas Filipinas. Foto: D'Bone Collector/Facebook

Os biólogos que analisaram a carcaça do animal dizem que ele morreu de fome e desidratação.

Um indivíduo de baleia da espécie bicuda-de-Cuvier (Ziphius cavirostris) apareceu morto em uma praia no Vale de Compostela, nas Filipinas. Trabalhadores do museu D’Bone Collector Museum Inc., na cidade de Dávao, localizada na ilha de Mindanau, recuperaram a carcaça do animal no sábado (16). Depois os biólogos realizaram uma autópsia para descobrir o que levou à morte do animal. E a descoberta que eles fizeram é chocante.

Foram encontrados no estômago do animal, um jovem macho, diversos itens de plástico. Eram dezesseis sacos de arroz, quatro sacos do tipo dos que protegem bananas nas plantações e muitas sacolas de supermercado, de acordo com um post do museu no Facebook. Os itens totalizaram quarenta quilos(!).

“O estômago tinha a maior quantidade de plástico que já vimos em uma baleia”, escreveram no post. “É repugnante.” E não foram apenas sacos de plástico. O pessoal do museu disse que planeja publicar uma lista completa de todos os itens de plástico encontrados no estômago da baleia nos próximos dias.

Esta não é a primeira vez que uma baleia cheia de plástico é encontrada morta em uma praia. Um cachalote apareceu morto na Indonésia em novembro passado com cem copos de plástico, quatro garrafas plásticas, 25 sacos de plástico e até mesmo um par de chinelos dentro do estômago. A baleia de Cuvier, nas Filipinas, detinha sete vezes mais plástico que o cachalote, informou o museu

“Toda vez que se vê isso é chocante”, disse Lindsay Mosher, gerente de programa do projeto Blue Habits da Oceanic Society, organização sem fins lucrativos. “É obviamente trágico.”

O biólogo marinho Darrell Blatchley, fundador do D’Bone Collector Museum, disse, em entrevista à rede americana CNN, que o jovem baleia-bicuda-de-Cuvier morreu de desidratação e inanição e vomitou sangue antes de morrer. O D’Bone Collector Museum é uma ONG que visa educar as pessoas sobre a preservação do meio ambiente.

Biólogo retira plásticos do estômago de baleia morta
Biólogo retira plásticos do estômago de baleia da espécie bicuda-de-Cuvier encontrada morta nas Filipinas. (Foto: D’Bone Museum / Facebook)

Os plásticos são um dos tipos mais comuns de detritos encontrados nos oceanos, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (ou NOAA, órgão do governo dos Estados Unidos). Esse tipo de resíduo pode entrar na água por meio do manejo inadequado de lixo, que se dá pelo lixo jogado em praias ou diretamente no mar ou nas margens de rios, que acabam levados até o mar.

Até 8,8 milhões de toneladas de plástico são despejados no oceano todos os anos, de acordo com um relatório de 2015 da organização sem fins lucrativos Ocean Conservancy. Em particular, cerca de 60% são provenientes da China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietnã. “A quantidade de resíduos plásticos mal gerido gerados pela população costeira de um único país varia de 1,1 MT a 8,8 milhões de toneladas por ano, com os 20 resíduos plásticos geridos pelos 20 principais países abrangendo 83% do total em 2010. A geração total anual de resíduos se dá principalmente em função do tamanho da população, com os principais países produtores de resíduos tendo algumas das maiores populações costeiras” (Jambeck et al, 2015).

“Estimamos que 99,5 milhões de toneladas de resíduos plásticos foram gerados em regiões costeiras em 2010. Desses, 31,9 milhões de toneladas foram classificados como mal administrados e se estimou que 4,8 a 12,7 milhões de toneladas entraram no oceano em 2010, equivalente a 1,7 a 4,6% do total resíduos de plástico gerados nesses países”, escreveram os pesquisadores.

Mas, de qualquer forma, o problema da contaminação por resíduos plásticos é uma questão global, disse Mosher. Ela acrescentou que as pessoas podem tomar medidas relativamente simples para ajudar a combater a poluição por plásticos. Mesmo algo tão simples como levar sacolas reutilizáveis ​​para o mercado ou usar recipientes de vidro no trabalho pode gerar um hábito e influenciar os outros a fazer o mesmo.

Leia mais em “Baleias francas estão sendo extintas, dizem especialistas”

Uma vez que esses e outros hábitos sociais se consolidem, grandes empresas e corporações adotarão boas práticas que evitem o desperdício de plástico, segundo a bióloga da Blue Habits. O resultado poderia dar aos animais marinhas uma chance de vida sem se afogar nos escombros da ignorância humana.

O lixo marinho “está se tornando uma das ameaças que mais crescem à saúde dos oceanos do mundo, de acordo com a primeira Avaliação de Oceanos do Mundo e uma grande ameaça ao limite planetário [planetary boundary layer – PBL] ao lado das mudanças climáticas, da diminuição da camada de ozônio e da acidificação dos oceanos”, (Fifth ASEAN State of the Environment Report, 2017, pág. 168). A PBL é a camada mais baixa da atmosfera e é diretamente influenciada pelo que acontece na superfície do planeta.

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