Cartas censuradas de Maria Antonieta com conde sueco tem seu conteúdo revelado

Letícia Silva Jordão
Imagem: Pintura de Maria Antonieta / Domínio Público

As cartas censuradas de Maria Antonieta foram escritas entre os verões de 1791 e 1792 quando a França estava à beira de uma revolução, e a sua rainha estava sendo observada de perto por conta de uma fracassada fuga para a comuna de Varennes.

Mesmo com o monitoramento, Antonieta conseguiu enviar algumas cartas para Axel von Fersen, um conde sueco que era um suposto amante da rainha.

Haviam sido feitas cópias dessas cartas por parte do conde, mas uma pessoa misteriosa havia rabiscado algumas palavras das cartas trocadas entre os dois, fazendo com que o conteúdo censurado não fosse descoberto por historiadores por quase 150 anos.

Mas, em um artigo publicado na Science Advances, um grupo de pesquisadores conseguiram revelar o conteúdo censurado das cartas.

Técnica utilizada para revelar as cartas censuradas de Maria Antonieta

Encontrar uma técnica que funcionasse nas cartas não foi uma tarefa fácil para os pesquisadores. Geralmente para fazer esse tipo de trabalho é utilizado a tomografia de raios-X ou a tomografia computadorizada, que permitem recuperar textos ocultos sem danificar os manuscritos.

Porém, as cartas censuradas de Maria Antonieta foram mais complicadas porque o censurador utilizou a mesma tinta da escrita original para rasurar o conteúdo, impossibilitando que elas tivessem um contraste químico que tornasse possível detectar o texto original.

Depois de discutir várias técnicas, os pesquisadores conseguiram encontrar uma que funcionou. A técnica utilizada se chama espectroscopia de fluorescência de raios-X ou XRF, que consegue diferenciar a assinatura química das tintas utilizadas pelo autor e pelo censurador.

As varreduras iniciais mostraram que a tinta utilizada nos textos era a tinta de galha de metal, um tipo bem comum e feito de sulfato de ferro. Segundo a professora assistente do Museu Nacional de História Natural da França, Anne Michelin, “o sulfato de ferro não é puro na maioria das vezes. Ele contém outros elementos metálicos, como cobre e zinco. Com essa ligeira diferença, podemos diferenciar as tintas.”

Dessa forma, os pesquisadores que tinham consigo 15 cartas de Maria Antonieta, conseguiram desfazer a censura de 8 dessas cartas.

Conteúdo escondido revelava certa intimidade entre os dois.

cartas censuradas de maria antonieta descoberta
Imagem: @CRC

As cartas de Maria Antonieta com o conde falavam bastante sobre questões políticas da época, mas a parte censurada mostrava sinais de afeto entre os dois, onde palavras como “amigo terno”, “amado” e “adorar” foram rasuradas.

Como a tinta utilizada para escrever e rasurar as cartas eram as mesmas, um especialista em caligrafia confirmou que o censurador misterioso era, na verdade, o próprio conde Axel von Fersen, que decidiu esconder justamente partes do texto que mostrava mais intimidade entre os dois.

Havia partes das cartas em que palavras foram alteradas para algo mais brando, como é o caso da frase “a letra de o dia 28 fez minha felicidade” que foi alterada para “a carta do dia 28 me alcançou”.

A Dra. Michelin ficou impressionada com o conteúdo das cartas: “[…] podemos ver uma relação que é realmente sincera.[…] é interessante ver como os eventos políticos e as relações pessoais se misturam.”.

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