Cabeças e corpos congelados aguardam ‘retorno à vida’ em instalação criogênica

Dominic Albuquerque

199 pessoas tiveram seus corpos e cabeças preservados numa instalação criogênica da Alcor Life Extension Foundation, com a esperança de serem revividas posteriormente.

Ao preservar os corpos a temperaturas congelantes, o objetivo da Alcor é trazê-los de volta à vida quando houver uma tecnologia médica adequada para tratar dos problemas que eles tinham antes do processo.

Os “pacientes”, como a fundação chama, coloca os corpos e cabeças em tanques cilíndricos preenchidos com nitrogênio líquido, assim como 100 animais de estimação que também foram preservados.

Alguns dos pacientes tinham casos terminais, de doenças que hoje ainda não possuem cura, como o câncer. Max More, antigo CEO da Alcor e agora embaixador e presidente emérito da fundação criogênica, contou que a medicina e tecnologia modernas são insuficientes para manter as pessoas vivas à medida que elas se aproximam da morte.

O objetivo, segundo Moore, é estabilizar os pacientes na instalação criogênica e impedir a piora do seu estado, até o momento em que a tecnologia médica consiga encontrar um tratamento e cura, para então trazê-los de volta à vida.

A instalação criogênica da Alcor

Diversos profissionais da área médica e jurídica, contudo, possuem grande ceticismo quanto à preservação humana através da criogenia. Clive Coen, neurocientista na King’s College de Londres, contou a MIT Technology Review que a criogenia humana é “uma aspiração sem esperanças que revela uma terrível ignorância [acerca] da biologia”.

Mas para aqueles que participam do processo na instalação criogênica, a criopreservação começa assim que a pessoa é declarada legalmente morta. Nesse momento, os órgãos ainda são viáveis, e uma equipe de criogenia que esperava a morte do paciente então os move para um banho de gelo que substitui o sangue por uma solução de preservação de órgãos.

Quando o paciente chega à instalação, a equipe libera os crioprotetores, ou químicos que previnem a formação dos cristais de gelo que poderiam causar danos aos órgãos, direto na corrente sanguínea dos pacientes. A Alcor refrigera o corpo a menos 160 graus Celsius, e o armazena num tanque preenchido com nitrogênio líquido.

criogênica
Imagem: Pixabay

E então vem a pegadinha: nenhuma organização criogênica sabe como trazer os pacientes de volta à vida. Mas a Alcor é “confiante que o renascimento pode ser possível”.

Fundada em 1972, a Alcor realizou sua primeira criopreservação humana em 1976. Contudo, o primeiro humano a ser congelado dessa forma foi o psicólogo James H. Bedford, que morreu em 1967 aos 73 anos com câncer nos rins. O corpo de Bedford foi colocado no gelo e processado pela Cryonics Society da Califórnia.

O corpo de Bedford permanece congelado até hoje, e agora descansa num dos tanques da Alcor.

O paciente mais jovem da fundação, que não tem fins lucrativos, é Matheryn Naovaratpong, uma garota tailandesa de dois anos de idade com cêncer no cérebro, que foi criopreservada em 2015. More conta que ambos seus pais eram doutores, e que ela passou por várias cirurgias cerebrais, mas que nada funcionou. Os pais, então, contataram a fundação.

Outros pacientes na instalação incluem o desenvolvedor de software e pioneiro em Bitcoin, Hal Finney, que morreu em 2014 de esclerose lateral amiotrófica, e o jogador de baseball Ted Williams, que morreu em 2002 devido à problemas no coração.

Vale a pena congelar um corpo?

A preservação de um corpo inteiro na Alcor custa pelo menos US$ 200.000, e a preservação do cérebro em si é de US$ 80.000.

Ainda que não existam evidências de que a criopreservação humana funciona, os defensores da ideia permanecem esperançosos, e citam avanços científicos como no esperma, embrionário e de células tronco, que podem ser criopreservados. Em 2016, pesquisadores no 21st Century Medicine criopreservaram e descongelaram um cérebro de coelho sem causar danos estruturais.

Coen, contudo, diz à MIT Technology Review que é “dissimulado” afirmar que esses estudos poderiam ser aplicados na criogenia humana, acrescentando que as estruturas cerebrais humanas são muito complexas para esse tipo de atividade.

Arthur Caplan, que lidera a divisão médica da New York University’s Grossman School of Medicine, contou à Reuters que “o único grupo… feliz sobre a possibilidade [de criogenia humana] são pessoas que se especializam no estudo do futuro distante ou pessoas que têm interesse em querer que você pague para fazer isso”.

Compartilhar