Baleia dissecada revela cinco dedos escondidos nas nadadeiras

Mateus Marchetto
Imagem: Dr Mark D. Scherz/ Twitter 2021

Charles Darwin, dentre outros feitos, argumentava que as baleias poderiam ter surgido a partir de animais como ursos, que se adaptaram à água. A comunidade científica da época ridicularizou Darwin, que até mesmo tirou o argumento das últimas edições da Origem das Espécies. Uma baleia dissecada na Dinamarca agora reforça que Darwin estava no caminho certo em seu pensamento.

No começo do mês de setembro, uma baleia-de-bico apareceu morta nas praias da Dinamarca. Como a espécie é relativamente rara, diversos institutos de pesquisas e especialistas foram acionados para estudar o cadáver.

Com o objetivo de entender melhor a fisiologia e a causa da morte do animal, diversos pesquisadores conduziram o trabalho de dissecar a baleia para coleta de órgãos, ossos e amostras. Acontece que a nadadeira da baleia dissecada causou certo espanto no Twitter, revelando os cinco dedos escondidos por baixo da membrana de gordura e carne que cobre as nadadeiras.

O pesquisador Mark D. Scherz, que publicou a foto acima, foi um dos encarregados pelo estudo do animal, e afirma no post da rede social: “Isso é o que parece quando você remove a carne inter-digital da nadadeira de uma baleia. Incrível ver quão bem o membro pentadáctilo é mantido!”

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Imagem: Pexels / Pixabay

Pentadáctilo, vale ressaltar, é qualquer animal que tenha cinco dedos em seus membros, mesmo que invisíveis.

Ainda que as baleias-de-bico não sejam animais muito grandes, manejar e dissecar o cetáceo não foi tarefa fácil. Ao mesmo tempo que é preciso retirar diversas camadas de gordura e carne, os especialistas precisam ter cuidado para não danificar nenhuma estrutura de estudo. Tudo isso é feito, afinal, com o objetivo de manter o valor acadêmico da baleia dissecada.

“Estes eventos criam um frenesi de atividade no museu, já que vários pesquisadores e assistentes trabalham juntos para preparar e coletar dados do animal.”, afirma Scherz, ao IFLScience.

Da terra ao mar, a mudança dos cinco dedos das baleias

Darwin errou por pouco. Na verdade os ancestrais das baleias não eram ursos, mas sim um tipo de animal parecido com um pequeno cervo de cauda comprida. Em 2008, nesse sentido, pesquisadores encontraram um fóssil de um animal agora chamado Indohyus – uma espécie extinta de mamífero que se aventurava em ambientes aquáticos.

Assim, fósseis de possível ancestrais das baleias sugerem que estes animais passaram por uma transição bastante lenta do ambiente terrestre para o aquático. Mais atrás na linha do tempo, tudo começou com a extinção dos dinossauros.

Os mamíferos em si existem no planeta há pelo menos 200 milhões de anos. Contudo, os dinossauros foram os seres dominantes do planeta durante a Era Mesozoica, antes do asteroide Chicxulub extinguir os grandes répteis do planeta, há 65 milhões de anos.

Algum tempo após a extinção dos dinossauros, o gênero Indohyus se desenvolveu, assim como uma gama gigantesca de outros mamíferos que vieram a dominar o planeta. Pesquisadores acreditam, todavia, que estes cetáceos primitivos na verdade só entravam na água para caçar ou fugir de predadores.

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As caudas são outra adaptação marcante das baleias ao ambiente aquático. Imagem: Angelo Giordano / Pixabay 

Ao longo de milhares de anos, contudo, adaptações foram surgindo nestes animais, como caudas maiores, pulmões mais eficientes e órgãos sensoriais adaptados à água. Além disso, claro, uma das últimas adaptações destes animais foi o surgimento de nadadeiras.

“O reaproveitamento de uma estrutura existente é mais fácil e provável do que a produção de uma nova estrutura ‘do zero’.”, afirma ainda Scherz. Ou seja, os cinco dedos passaram por uma adaptação paulatina até se tornarem nadadeiras.

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