Você, por acaso, já se perguntou o motivo para as pimentas terem o gosto picante que têm? As aves, que podem parecer não ter nada a ver com isso, são fundamentais para a existência destes frutos e condimentos picantes que muitos de nós, aliás, adoram.
A capsaicina é um composto químico biologicamente ativo que está presente na maioria das pimentas. Essa pequena molécula com apenas 18 carbonos, aliás, é a grande responsável pelo gosto picante das pimentas como o da assustadora – e deliciosa para alguns – Carolina Reaper (a ceifadora da Carolina [do Sul]).
Essa aliás, é considerada a pimenta mais forte do planeta, girando perto de 200 vezes mais picante que a pimenta-jalapenho. A pimenta super-picante é uma variante artificial da espécie Capsicum chinense, cruzada com outras pimentas.
Acontece que as aves simplesmente não têm receptores de paladar para a capsaicina. Ou seja, eles não sentem, ao que tudo indica, nenhum dos efeitos do gosto das piores pimentas. Apesar disso, é possível que algumas aves tenham problemas digestivos com comidas muito picantes.
O que acontece é que as aves são ótimas dispersoras de sementes. Elas viajam milhares de quilômetros e, claro, defecam no meio do caminho. Boa parte das sementes, no entanto, acaba não digerida pelas aves e sai junto com as fezes – o adubo perfeito e a melhor forma de espalhar plantas por aí.
Assim, é possível que a relação aves-pimentas seja um belo exemplo de coevolução, quando dois organismos próximos ecologicamente evoluem novas características relacionadas. Ademais, o mutualismo beneficia as pimentas, que podem se espalhar para novos ambientes, e as aves, que tiram o alimento das frutas de pimenta sem sofrer pelo gosto picante.
Esquilos não suportam o gosto picante
Mamíferos, de forma geral, sentem o efeito total da capsaicina. Especialmente aqueles que comem e digerem sementes. Esquilos, por exemplo, tendem a comer sementes – e acabam ajudando a planta de outras maneiras.
Contudo, no caso da pimenta, a interação com um esquilo não é muito vantajosa, já que o animal acabaria não transportando as sementes para locais distantes. Mamíferos, de forma geral, tendem a espalhar sementes (pelo seu cocô) em distâncias mais curtas.
Assim, milhares de anos de seleção criaram uma caraterística que permitia às pimentas uma dispersão em distâncias altíssimas, sem que suas sementes caíssem muito perto, e um dia virassem uma planta competidora.
De quebra a evolução ainda nos deu um dos temperos e condimentos mais apreciados ao redor do planeta.