Em 1929, pesquisadores fizeram o último registro conhecido de uma subespécie de saíra-de-cabeça-azul no Cerrado brasileiro. Todavia, agora dois pesquisadores registraram imagens da ave rara de volta ao Cerrado, após quase 100 anos.
O naturalista José Blaser coletou um exemplar da subespécie da ave rara, que mais especificamente é Stilpnia cyanicollis albotibialis, ainda em 1929. Esse espécime está hoje no Field Museum of Natural History e desde então não houve registros em imagens ou exemplares deste animal.
Ainda assim, nos anos 80 o biólogo Roberto Brandão Cavalcante relata ter observado a subespécie da ave rara, contudo sem ter registrado imagens.
A dupla de autores da descoberta, Estevão Santos e Marcelo Kuhlmann, agora publicou as observações no periódico Bulletin of the British Ornithologists’ Club, no último dia 10 de setembro. Contudo, a observação da saíra aconteceu em dezembro de 2020, em uma expedição a uma propriedade privada na Chapada dos Veadeiros.
“Quando chegamos na beira do rio São Miguel a gente viu uma pixirica, que pertence a um grupo de plantas frutíferas muito comum no Cerrado. E aí eu me lembro de ver um passarinho saltando na ponta da árvore, de um galho ao outro. A cor escura dele me chamou a atenção, porque era bem visível mesmo sem a utilização do binóculo. Quando eu bati o binóculo eu vi imediatamente que era essa saíra e quase caí pra trás”, afirma Estevão ao G1.
Os autores ressaltam ainda na pesquisa a dificuldade para caracterização e estudo da subespécie, uma vez que a literatura sobre o animal seja tão escassa. Ademais, eles ressaltam que a observação provavelmente só foi possível pois aquela região específica da Chapada dos Veadeiros tem mais de 80% da sua cobertura de vegetação natural conservada.
Características da subespécie de ave rara
De acordo com as pesquisas sobre as saíras-de-cabeça-azul, o que diferencia essa subespécie é que a ave possui um pescoço roxo, com a barriga azulada e discretas manchas brancas nas pernas. Segundo os autores, além disso, a árvore de pixirica na qual a ave estava se alimentando também é uma espécie que eles não haviam registrado, apesar dos mais de 15 anos de expedições pelo Cerrado.
Ao todo existem 7 subespécies de saíras-de-cabeça-azul no planeta. Destas 7, por conseguinte, apenas 2 habitam o Brasil, e as demais vivem mais próximas à Cordilheira dos Andes.
A Stilpnia cyanicollis melanogaster é uma subespécie mais comum, que habita principalmente a Amazônia. Já a ave rara redescoberta, S. c. albotibialis, só existe, até onde se sabe, na Chapada dos Veadeiros.
Outra curiosidade marcante sobre a descoberta é que, em 1929, José Blaser avistou a ave na mesma região em que a dupla de pesquisadores agora redescobriu o animal. Acredita-se que isso possa acontece devido a uma característica especial do Cerrado: este bioma está no centro de todos os outros biomas brasileiros.
Assim, o Cerrado recebe influência da Amazônia, da Caatinga, da Mata Atlântica, dente outros. Isso permite que o bioma tenha características muito variadas ao longo de sua extensão e, por vezes, muito específicas também.