Átila pode ter atacado Roma para livrar seu povo da fome

Daniela Marinho
Ataques dos hunos ao Império Romano liderado por Átila. Imagem: Canva

Os hunos eram um povo oriundo da Ásia, formado por cavaleiros que conquistaram boa parte do Império Romano. A história clássica concede aos hunos o título de bárbaros degoladores que tinham uma “sede infinita por ouro”. No entanto, um novo estudo contrapõe essa visão sanguinária dada a esse povo, pois Átila, o comandante, teria atacado Roma para livrá-los da fome.

Desse modo, ao contrário do que muitos historiadores acreditavam, os ataques comandados por Átila possuíam um aspecto de sobrevivência, no sentido de exercer práticas de subsistência.

Átila comandou ataques à Roma motivados pela fome

Publicado no Journal of Roman Archaeology, o novo estudo sugere que os ataques à Roma comandados por Átila e feito pelos cavaleiros tiveram como motivação a fome. De acordo com a pesquisa, “Os ataques e guerras hunos nas províncias romanas são mais intensamente atestados na primeira metade do século V. Propomos que os períodos de seca severa nos anos 430 a 450 EC interromperam a organização econômica dos recém-chegados e das populações provinciais locais, exigindo que ambos adotassem estratégias para amortecer os desafios econômicos.”

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Ilustração de Átila, o comandante dos hunos. Imagem: Canva

A nova abordagem da pesquisa leva em conta evidências arqueológicas, ambientais e históricas para reconstruir dados climáticos de anéis de árvores que sugere que essas pessoas semi-nômades foram forçadas a atacar e invadir as províncias romanas orientais por escassez de alimentos.

Alterações climáticas

Arqueólogos da Universidade de Cambridge dizem que entre os anos 420 e 450 d.C., as pessoas que viviam nas estepes da Eurásia teriam vivenciado um clima turbulento. Isso porque o início do século V na Grande Planície Húngara foi marcado por uma série de verões muito secos.

Esses tempos de seca, realmente, forçaram as comunidades hunas a se tornarem nômades e alterar suas formas de subsistência, alternando entre a agricultura em um local fixo e o pastoreio de animais em pastos mais ricos.

Os dentes de restos de humanos achados nas grandes estepes húngaras demonstram que esses povos experimentaram várias mudanças de dieta durante suas vidas. Esses sinais sugerem que eles tinham uma adaptação rápida a qualquer fonte de alimento que estivesse disponível.

A arqueóloga Susanne Hakenbeck explica que “As pessoas respondem ao estresse climático de maneiras complexas e imprevisíveis […] Se a escassez de recursos se tornou muito extrema, as populações estabelecidas podem ter sido forçadas a se mudar, diversificar suas práticas de subsistência e alternar entre a agricultura e o pastoreio móvel de animais. Estas poderiam ter sido importantes estratégias de seguro durante uma crise climática.”

Átila, um líder ganancioso?

Átila chegou ao poder na década de 430, e é frequentemente acusado de desencadear o pior da guerra. Durante o período no qual foi rei, os historiadores romanos dizem que o líder huno fez demandas crescentes por seu ouro e terras com incursões regulares em suas cidades-estados.

Contudo, enquanto Átila é constantemente adjetivado como um líder ganancioso, que queria sugar todo o Império Romano, seus ataques na fronteira oriental foram feitos no mesmo momento em que havia uma crescente aridez na Bacia dos Cárpatos, corroborando com a sugestão do estudo, na qual o comandante tentava livrar seu povo da fome.

História escrita pelos vencedores

A morte repentina de Átila ocorreu no ano de 453. Depois disso e como sempre, a história foi escrita pelos vencedores – que derrotaram os hunos para sempre. A descrição romana deu aos hunos a denominação de pessoas feias, raivosas, gananciosas e violentas.

Entretanto, as novas descobertas revelam que esse comportamento estava atrelado, em boa parte, por uma questão de sobrevivência. Em vez de atacar as províncias romanas principalmente em busca de ouro, os pesquisadores suspeitam que os ataques de Átila foram feitos para adquirir alimentos e gado durante os períodos de seca.

Embora mais evidências arqueológicas sejam necessárias, o estudo é deveras relevante para a compreensão da história. Caso os historiadores estejam certos, a violência de Átila contra Roma pode ter sido uma última tentativa de manter seu próprio povo vivo.

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