Um lançamento de dados coletados pela rede de telescópios Low Frequency Array (LOFAR), na Europa, adicionou novos níveis extraordinários de detalhes ao mapa de ondas de rádio em todo o cosmo, inspirando dezenas de estudos sobre tudo, de campos magnéticos a buracos negros.
São momentos como estes que devemos ser gratos por nossa relativa cegueira ao brilho do céu noturno – pelo menos, se quisermos dormir à noite. Invisível ao olho humano, o Universo está de fato em chamas com ondas de baixa frequência produzidas pela aceleração de partículas e campos eletromagnéticos.
Medir aquele zumbido de rádio requer algum equipamento bastante sensível. O conjunto de 20.000 antenas da LOFAR espalhadas por 48 estações na Holanda e no exterior é como ter um enorme olho sensível a rádio na superfície do nosso planeta.
Entre suas muitas tarefas está uma pesquisa intensiva do céu noturno do norte em frequências de rádio de cerca de 120 a 168 megahertz, que deve fornecer novas informações sobre uma variedade de fenômenos astronômicos que brilham suavemente.
Até agora, apenas 20% da pesquisa foi concluída e, com isso, cientistas de todo o mundo só podem acessar cerca de 10% dos dados disponíveis.
A revista Astronomy and Astrophysics acaba de publicar 26 estudos baseados nesta divulgação inicial de dados, cobrindo quasares, blazares, buracos negros e campos eletromagnéticos intergalácticos.
Uma das grandes revelações no mosaico de fontes são 325.694 pontos, onde o brilho das ondas de rádio aumenta para pelo menos cinco vezes o ruído de fundo. Cerca de 70 por cento destes podem estar ligados a um sinal óptico, por isso é bastante seguro dizer que estes pontos brilhantes representam galáxias.
Não é segredo que galáxias de tamanho suficiente abrigam buracos negros gigantescos que engolem tudo ao alcance com tanta temeridade, que vomitam jatos de matéria brilhando em ondas de rádio. O que não ficou claro é o quão estrita é essa regra, e se esses buracos negros conseguem clarear sua placa.
Esses novos dados estão ajudando a persuadir os cientistas de que esses monstros têm apetites implacáveis.
“LOFAR tem uma sensibilidade notável e isso nos permite ver que esses jatos estão presentes em todas as galáxias mais massivas, o que significa que seus buracos negros nunca param de comer”, diz o astrofísico Philip Best, da Universidade de Edimburgo.
Identificar os locais de novas galáxias não apenas nos ajuda a entender suas estruturas internas, mas também fornece uma ferramenta valiosa para entender as vastas extensões do nada entre elas.
Normalmente, as ondas de rádio são produzidas pela turbulência agitada à medida que as galáxias colidem.
“O que estamos começando a ver com LOFAR é que, em alguns casos, aglomerados de galáxias que não estão se fundindo também podem mostrar essa emissão, embora em um nível muito baixo que era anteriormente indetectável”, diz a astrofísica Annalisa Bonafede, da Universidade de Bolonha.
“Esta descoberta nos diz que, além dos eventos de fusão, existem outros fenômenos que podem acionar a aceleração de partículas em grandes escalas”.
Isto é apenas o começo. Há muito mais espaço para descobrir, o que no final pode revelar cerca de 15 milhões de novas fontes de emissões de ondas de rádio, muitas delas remontando à aurora do Universo. [Science Alert]