Astronautas em Marte poderão ver o céu verde, sugere estudo

Damares Alves
Uma ilustração do que os astronautas de Marte podem ver quando olham para os pólos do planeta. Imagem: NASA/JPL-Caltech/Cornell Univ./Arizona State Univ.– EW Knutsen

Futuros exploradores de Marte poderão testemunhar um fenômeno notável nas regiões polares do planeta: um resplandecente brilho verde no céu noturno.

Este fenômeno foi detectado pela primeira vez pela missão ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) da Agência Espacial Europeia (ESA), revela-se na atmosfera marciana sob condições de céu claro, podendo ser suficientemente intenso para ser percebido a olho nu e auxiliar na navegação dos rovers durante a noite.

Conhecido como “nightglow”, este fenômeno também pode ser observado na Terra.

Sua origem em Marte é resultado da combinação de dois átomos de oxigênio para formar uma molécula de oxigênio, ocorrendo aproximadamente 50 quilômetros acima da superfície do planeta. Este processo inicia-se no lado iluminado de Marte, onde a luz solar desintegra as moléculas de dióxido de carbono, liberando átomos de oxigênio. Estes átomos, ao migrarem para o lado noturno e perderem a excitação solar, recombinam-se e emitem luz em altitudes inferiores.

Lauriane Soret, pesquisadora da Universidade de Liège na Bélgica, explica que a emissão luminosa ocorre devido à recombinação de átomos de oxigênio formados na atmosfera de verão de Marte e transportados pelos ventos para as altas latitudes de inverno, entre 40 a 60 quilômetros de altitude. Esta iluminação pode ser comparável às nuvens terrestres iluminadas pela lua.

Produção de brilho noturno de oxigênio em Marte. Imagem: ESA.

A descoberta segue uma pesquisa anterior da Mars Express, que observou o brilho noturno em infravermelho uma década atrás. O TGO, orbitando Marte a 400 quilômetros de altitude, utilizou seu instrumento NOMAD para monitorar este fenômeno.

O experimento NOMAD, liderado pelo Instituto Real Belga de Aeronomia Espacial com colaboração internacional, ajuda a entender processos atmosféricos complexos em Marte, fornecendo dados sobre a composição atmosférica, dinâmica e densidade do oxigênio, assim como o impacto da luz solar e do vento solar. Este conhecimento é crucial para futuras missões ao planeta vermelho, influenciando desde o projeto de satélites até o pouso de sondas na superfície.

O brilho noturno em Marte, embora semelhante, difere das auroras que foram observadas tanto em Marte quanto na Terra.

As auroras resultam do impacto de elétrons solares na atmosfera superior, variando em intensidade e localização, enquanto o brilho noturno apresenta uma distribuição mais homogênea. Ambos os fenômenos podem exibir uma gama de cores, dependendo dos gases atmosféricos predominantes em diferentes altitudes.

Curiosamente, o brilho noturno verde na Terra é mais sutil, geralmente observado de uma perspectiva lateral, como evidenciado em muitas fotografias impressionantes tiradas por astronautas da Estação Espacial Internacional.

Compartilhar