Pesquisas recentes destacaram que bonobos,assim como os seres humanos, podem cooperar com membros de outros grupos sociais sem receber benefícios imediatos. Este estudo, publicado na revista Science, pode lançar luz sobre a evolução da cooperação humana.
Bonobos (Pan paniscus), primatas esbeltos que vivem nas florestas tropicais da República Democrática do Congo, são os parentes mais próximos dos humanos, juntamente com os chimpanzés.
Estudos desses animais são frequentemente realizados para obter insights sobre as origens humanas. Embora as pesquisas anteriores se concentrassem mais nos chimpanzés, os bonobos oferecem um contraste interessante, pois eles têm sociedades matriarcais e são geralmente mais pacíficos.
Durante um período de dois anos, cientistas observaram dois grupos sociais de bonobos, totalizando 31 adultos, na República Democrática do Congo. Eles registraram 95 encontros entre os grupos, alguns breves e outros estendendo-se por mais de duas semanas.
Surpreendentemente, comportamentos como cuidados mútuos, compartilhamento de alimentos e formação de alianças ocorreram não só dentro dos grupos, mas também entre membros de grupos diferentes. Cerca de 10% das interações de higiene e 6% do compartilhamento de alimentos foram entre bonobos de diferentes grupos.
Interessantemente, o compartilhamento de alimentos entre bonobos de grupos diferentes muitas vezes não era recíproco, sugerindo um ato mais altruísta. Esse comportamento é consistente com as observações de longa data feitas em santuários de resgate de bonobos.
Para os bonobos, “o mais importante é estar estável, ter bom entendimento – mais do que tudo”, diz Suzy Kwetuenda gerente do santuário Lola ya Bonobo, na República Democrática do Congo, que não teve participação no estudo ao NPR.
Os cientistas também notaram que alguns bonobos eram mais cooperativos que outros, promovendo a cooperação entre grupos.
“Os pesquisadores costumavam acreditar que o ‘amor’ dentro do grupo anda junto com o ‘ódio’ fora do grupo, mas pesquisas recentes sugerem que muitas vezes os cooperadores dentro do grupo também são cooperadores fora do grupo”, diz Kasper Otten, sociólogo do Centro de Pesquisa e Documentação da Holanda, que não esteve envolvido no estudo, ao New Scientist.
Embora o estudo tenha se limitado a apenas dois grupos de bonobos selvagens, há expectativas de que pesquisas futuras ampliem o entendimento sobre a cooperação entre essas criaturas.
Enquanto isso, permanece a questão sobre a natureza humana: somos naturalmente mais inclinados à cooperação, como os bonobos, ou à violência, como os chimpanzés?
Liran Samuni, coautor do estudo e biólogo evolucionista da Universidade de Harvard, sugere que a resposta pode ser uma mistura de ambos, indicando que bonobos e chimpanzés, juntos, podem nos ensinar sobre nosso passado evolutivo.