As águias harpias são consideradas por muitos como uma das aves mais espetaculares do planeta. Elas também estão entre as mais esquivas, evitando em geral áreas perturbadas pela atividade humana – antes já tendo desaparecido de partes de sua área – e listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como sendo “Quase Ameaçadas”.
Entretanto, novas pesquisas conduzidas pela Universidade de Plymouth (Reino Unido) sugerem que as estimativas da distribuição atual da espécie superestimam o tamanho de sua área de distribuição.
Usando uma combinação de avistamentos físicos e dados ambientais, eles desenvolveram uma estrutura de modelagem espacial que visa estimar as distribuições atuais e passadas com base nas condições preferenciais de habitat das aves.
Os autores então utilizaram o modelo para estimar um tamanho de faixa atual 11% menor do que o referido pela IUCN, sendo a alta umidade climática o fator mais importante influenciando a distribuição, seguido por uma temperatura mínima do mês mais quente de aproximadamente 27°C.
Com base em projeções climáticas passadas e futuras, os pesquisadores mostraram que a distribuição da águia harpia permanecerá estável na Amazônia central, Guiana, leste da Colômbia e Panamá, tornando estas regiões especialmente importantes para sua conservação.
A fim de garantir sua persistência futura, os autores sugerem que as políticas de conservação atuais e futuras, tais como a redução do desmatamento e a abordagem de questões de perseguição, devem levar em conta tais modelos espaciais.
A pesquisa foi publicada na revista Ecologia e Evolução, e envolveu uma colaboração internacional de pesquisadores do The Peregrine Fund (Equador, Panamá, EUA) e da Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul), sediada no Brasil.
Luke Sutton, estudante de doutorado da Escola de Ciências Biológicas e Marinhas da Universidade de Plymouth e autor principal da pesquisa, disse: “As águias harpias são difíceis de observar e vivem em baixas densidades populacionais, por isso tem havido pouca pesquisa sobre quais fatores ambientais influenciam seus limites de alcance. Nosso estudo mostra que a estabilidade climática futura prevista será em áreas centrais com extenso habitat de florestas tropicais de planície. Isso significa que a perda de habitat como resultado do desmatamento é a maior ameaça que eles enfrentam, e os planos de conservação precisam levar tudo isso em conta”.
O autor sênior Dr. Robert Puschendorf, Palestrante em Biologia da Conservação, acrescentou: “Mais da metade de todas as espécies globais de ave de rapina têm populações em declínio. Portanto, entender mais sobre onde elas escolhem viver e por que deveriam ser um fator crítico quando estamos analisando a melhor forma de conservar as populações de ave de rapina. O tipo de modelo que apresentamos aqui está faltando para muitas espécies raras e ameaçadas, particularmente em regiões tropicais, mas pode ser uma forma econômica e rápida de direcionar o planejamento de conservação para espécies ameaçadas”.
As águias harpias estão entre as maiores e mais poderosas águias do mundo e, historicamente, atravessam florestas tropicais de terras baixas, desde o México, no norte, até a Argentina, no sul.
No entanto, elas se extinguiram localmente em partes da América Central e do Brasil durante o século 20. Atualmente existem múltiplos programas de conservação em vigor para melhor compreender a dinâmica populacional e conservar o habitat da floresta tropical para ajudar a garantir sua sobrevivência futura.
Matéria originalmente publicada em Universidade de Plymouth. Tradução e adaptação de Damares Alves.