As harpias podem estar mais ameaçadas do que se pensava

Universidade de Plymouth
Everton Miranda

As águias harpias são consideradas por muitos como uma das aves mais espetaculares do planeta. Elas também estão entre as mais esquivas, evitando em geral áreas perturbadas pela atividade humana – antes já tendo desaparecido de partes de sua área – e listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como sendo “Quase Ameaçadas”.

Entretanto, novas pesquisas conduzidas pela Universidade de Plymouth (Reino Unido) sugerem que as estimativas da distribuição atual da espécie superestimam o tamanho de sua área de distribuição.

Harpias
Marcelo Plaza / Pixabay

Usando uma combinação de avistamentos físicos e dados ambientais, eles desenvolveram uma estrutura de modelagem espacial que visa estimar as distribuições atuais e passadas com base nas condições preferenciais de habitat das aves.

Os autores então utilizaram o modelo para estimar um tamanho de faixa atual 11% menor do que o referido pela IUCN, sendo a alta umidade climática o fator mais importante influenciando a distribuição, seguido por uma temperatura mínima do mês mais quente de aproximadamente 27°C.

Com base em projeções climáticas passadas e futuras, os pesquisadores mostraram que a distribuição da águia harpia permanecerá estável na Amazônia central, Guiana, leste da Colômbia e Panamá, tornando estas regiões especialmente importantes para sua conservação.

A fim de garantir sua persistência futura, os autores sugerem que as políticas de conservação atuais e futuras, tais como a redução do desmatamento e a abordagem de questões de perseguição, devem levar em conta tais modelos espaciais.

A pesquisa foi publicada na revista Ecologia e Evolução, e envolveu uma colaboração internacional de pesquisadores do The Peregrine Fund (Equador, Panamá, EUA) e da Universidade de KwaZulu-Natal (África do Sul), sediada no Brasil.

Luke Sutton, estudante de doutorado da Escola de Ciências Biológicas e Marinhas da Universidade de Plymouth e autor principal da pesquisa, disse: “As águias harpias são difíceis de observar e vivem em baixas densidades populacionais, por isso tem havido pouca pesquisa sobre quais fatores ambientais influenciam seus limites de alcance. Nosso estudo mostra que a estabilidade climática futura prevista será em áreas centrais com extenso habitat de florestas tropicais de planície. Isso significa que a perda de habitat como resultado do desmatamento é a maior ameaça que eles enfrentam, e os planos de conservação precisam levar tudo isso em conta”.

O autor sênior Dr. Robert Puschendorf, Palestrante em Biologia da Conservação, acrescentou: “Mais da metade de todas as espécies globais de ave de rapina têm populações em declínio. Portanto, entender mais sobre onde elas escolhem viver e por que deveriam ser um fator crítico quando estamos analisando a melhor forma de conservar as populações de ave de rapina. O tipo de modelo que apresentamos aqui está faltando para muitas espécies raras e ameaçadas, particularmente em regiões tropicais, mas pode ser uma forma econômica e rápida de direcionar o planejamento de conservação para espécies ameaçadas”.

As águias harpias estão entre as maiores e mais poderosas águias do mundo e, historicamente, atravessam florestas tropicais de terras baixas, desde o México, no norte, até a Argentina, no sul.

No entanto, elas se extinguiram localmente em partes da América Central e do Brasil durante o século 20. Atualmente existem múltiplos programas de conservação em vigor para melhor compreender a dinâmica populacional e conservar o habitat da floresta tropical para ajudar a garantir sua sobrevivência futura.

Matéria originalmente publicada em Universidade de PlymouthTradução e adaptação de Damares Alves.

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