Cerca de meio bilhão de abelhas foram mortas em quatro dos estados do sul do Brasil nos primeiros meses do ano. Isso aconteceu devido ao oceano de pesticidas usados na agricultura em todo o país, e que foram liberados massivamente.
A maior parte das abelhas mortas mostrou traços de fipronil, um inseticida proscrito na União Européia e classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
“Assim que as abelhas saudáveis começaram a tirar as abelhas mortas das colmeias, elas ficaram contaminadas”, disse Machado, vice-presidente da Associação Brasileira de Apicultura do Rio Grande do Sul. “Elas começaram a morrer em massa”
Desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu em janeiro, o Brasil permitiu a venda de um número recorde de 290 pesticidas, um aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano passado, e um projeto de lei no Congresso poderia relaxar ainda mais os padrões.
Um recente relatório da Anvisa descobriu que 20% das amostras de alimentos coletadas continham resíduos de pesticidas acima dos níveis permitidos ou continham pesticidas não autorizados.
“A morte de todas essas abelhas é um sinal de que estamos sendo envenenados”, disse Carlos Alberto Bastos, presidente da Associação Apícola do Distrito Federal.
“Quanto maior o número de produtos, menor nossas chances de segurança, porque você não pode controlar todos”, disse Silvia Cazenave, professora de toxicologia da Universidade Católica de Campinas.
O Ministério da Saúde relatou 15.018 casos de envenenamento por agrotóxicos em 2018, mas reconheceu que isso provavelmente está subestimado.
Uma das vítimas foi Andresa Batista, uma mãe de 30 anos de idade. Em março de 2018, ela começou a trabalhar colhendo soja em uma das plantações das planícies ao redor da capital, Brasília. Logo ela começou a sentir-se tonta e nauseada – e depois desmaiou.
Mais de 40 fazendeiros adoeceram naquele dia, segundo Batista, tantos que foram divididos em três grupos e levados para diferentes hospitais. A primeira equipe médica a atender Batista também ficou doente, levando o hospital a destruir suas roupas, inclusive a roupas de baixo.
Ainda assim, Batista e a maioria dos outros foram liberados para trabalhar novamente dois dias depois. Quase assim que eles começaram, eles pioraram.
Mais de um ano depois, Batista ainda não consegue trabalhar. Ela tem dificuldade para comer sem vomitar, não pode ir ao banheiro sem remédio, não pode ir ao sol sem ficar com a pele inchada e perdeu cerca de 30% de sua visão. Os médicos não podem dar-lhe um prognóstico devido à incerteza sobre o tipo de pesticida que a envenenou.
“Naquele dia, nossas vidas terminaram”, disse ela. “Não somos as mesmas pessoas que éramos antes.”
Apesar de histórias como as de Batista, o Congresso pode acelerar ainda mais as aprovações, redefinindo os pesticidas como “defesas agrícolas” e substituindo a exigência de identificar possíveis danos por simples análise de risco.
FONTES / National Geographic / Boomberg