Aquecimento global está mudando os corpos das aves amazônicas

Mateus Marchetto
Imagem: paulbr75 / Pixabay

Aves que vivem perto da Linha do Equador tendem a ser menores e mais esguias do que aquelas vivendo nos polos. Isso porque a relação entre superfície e volume corporal limita o crescimento e formato do corpo dos animais. Nesse sentido, pesquisadores relatam que o aquecimento global está fazendo aves amazônicas ficarem mais leves e com membros mais longos.

Coletando dados ao longo de incríveis 50 anos, a equipe de pesquisadores analisou 77 espécies diferentes de aves amazônicas, contabilizando mais de 14.000 aves estudadas. A pesquisa, publicada no periódico Science Advances, mostra que 100% das espécies mostraram uma diminuição média da massa corporal.

Ademais, os autores também registram um aumento significativo no comprimento das asas de 69% de todos os animais. Mesmo considerando-se as variações de estações da Amazônia, os cientistas encontraram uma correlação forte entre o aquecimento do planeta e essa mudança no plano corporal das aves amazônicas.

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Imagem: alvaroas8a0 / Pixabay

Vale ressaltar que a maior parte da pesquisa foi realizada no experimento ecológico Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, de Manaus. O projeto conta com uma área preservada de mais de 100 acres, livre de desmatamento ilegal e poluição direta humana.

Ainda assim, a reserva que teve início em 1979 apresentou uma redução de até 40% na população para algumas espécies, especialmente aquelas que se alimentam de insetos. Estes resultados foram publicados ainda em 2020, por autores também relacionados com essa nova pesquisa.

Aves amazônicas como um indicativo da mudança climática a longo prazo

Na natureza tudo depende de energia. Os processos biológicos que acontecem no nosso corpo a cada segundo são, a grosso modo, uma forma de manter a matéria organizada e funcionando que depende, claro, de muita energia.

A superfície e o tamanho do corpo, nesse sentido, são fatores determinantes para o consumo de energia em cada ambiente. Isso porque a pele é a superfície pela qual os corpos biológicos perdem calor, ao passo que o interior do corpo produz muito calor metabólico.

Um musaranho, por exemplo, precisa comer quantidades absurdas de energia – em relação ao seu tamanho – para continuar vivo. Isso porque seu volume corporal é pequeno em relação à pele, o que faz o bicho perder muito calor.

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Imagem: TNeto / Pixabay

Voltando, então, às aves amazônicas.

Quando uma ave tem pernas e asas mais longas, além de uma massa menor, ela está facilitando a troca de calor de seu corpo com o ambiente. Isso porque membros maiores criam uma superfície de contato também maior. Ou seja, as aves amazônicas podem estar evoluindo corpos menores para se livrar do calor extra que vem surgindo na atmosfera devido à atividade humana.

Contudo, a equipe não tem ainda certeza sobre os efeitos fisiológicos e evolutivos destas mudanças sobre as aves. Ao mesmo tempo que a pesquisa mostra tamanha plasticidade evolutiva, essa alteração na massa e membros pode causar, por exemplo, deficiências nutritivas e consequente redução dos números destas aves.

“Dirigir seu SUV na Pensilvânia está impactando os corpos de pássaros na Amazônia e o único motivo pelo qual sabemos disso são os dados de longo prazo.”, diz o autor Vitec Jirinec ao Smithsonian Magazine.

A pesquisa está disponível no periódico Science Advances.

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