Há mais de 50.000 anos, o território atual da Austrália estava cheio de diferentes espécies, inclusive uma enorme ave gigante, a Genyornis newtoni, que pesava cerca de 250 kg.
Contudo, seu tamanho não foi o suficiente para conter os humanos. Essa enorme ave desapareceu há 45.000 anos, deixando pesquisadores se questionando se isso teria acontecido devido à interferência humana ou às mudanças ambientais.
Agora, um novo estudo confirma que foram os humanos foram de fato os responsáveis.
Os ovos da ave gigante
Fragmentos de cascas de ovos de milhares de anos atrás foram encontrados na Austrália nos últimos anos, com evidências apontando que eles tinham sido cozidos. A identidade dos ovos foi alvo de debates entre pesquisadores por anos, até uma equipe global confirmar que os ovos da ave gigante eram de fato da espécie Genyornis newtoni.
“O tempo, a temperatura e a química do fóssil servem para ditar quanta informação podemos coletar”, disse o professor e coautor Matthew Collins. “As cascas de ovos são feitas de cristais minerais que podem prender firmemente algumas proteínas, preservando esses dados biológicos nos ambientes mais hostis – potencialmente por milhões de anos.”
Isso não demonstra apenas uma característica interessante das cascas de ovo, como também a forma que essa ave gigante encontrou o seu fim.
A presença humana no passado
O clima da Terra passou por grandes mudanças durante o Pleistoceno, período entre 2.6 milhões e 12.000 anos atrás. Eras do gelo fizeram os níveis do mar subirem e descerem, desencadeando o desaparecimento de grandes animais.
Nessa lista temos os mamutes da Europa, as preguiças das Américas, dentre outras criaturas gigantes que simplesmente desapareceram do planeta.
Mas o clima não é o suficiente para explicar o desaparecimento dessa ave gigante em questão.
Os humanos chegaram a Austrália há pelo menos 65.000 anos, quando diversos animais de grande porte ocupavam o continente. Nos 20.000 anos seguintes, a maioria dessas espécies foram extintas. Acredita-se que a influência humana tenha contribuído para essa rápida extinção, mas é difícil encontrar evidências que sustentem isso na velocidade em que ocorreu.
Contudo, há uma exceção. Os pesquisadores encontraram, nos últimos aos, milhares de fragmentos de cascas de ovos, com mais de 55.000 anos de idade. Muitos acreditavam que eles eram do Genyornis newtoni, mas até então nada tinha sido confirmado.
Agora, o novo estudo pode ter encontrado uma resposta. O objetivo inicial era obter o DNA antigo através de pedaços da casca, para assim identificar a espécie.
Infelizmente, o material genético não sobreviveu ao clima intenso da Austrália. Então, ao invés disso, os pesquisadores resolveram usar uma técnica relativamente nova, para analisar outro componente chave dos ovos: suas proteínas.
Isso permitiu que eles comparassem as sequências nas proteínas antigas com aquelas das espécies, o que então possibilitou que os pesquisadores confirmassem que os ovos eram do Genyornis newtoni, a ave gigante apontada anteriormente, e não de outras espécies.
Os pesquisadores acreditam que os humanos que chegaram no que agora é a Austrália tinham o costume de se alimentar dos ovos de outras aves gigantes também, baseando-se em cascas de ovos de avestruz do Pleistoceno encontradas na África e Ásia.
“Enquanto avestruzes e humanos coexistiram durante a pré-história, os níveis de exploração dos ovos do Genyornis pelos australianos primitivos podem ter sido mais do que as estratégias reprodutivas dessas aves extraordinárias poderiam suportar”, Collins disse numa declaração.
O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.