Animais realizam incesto sem se preocupar com isso

Giovane Sampaio

A partir de uma meta-análise, publicada na Nature Ecology & Evolution, cientistas compilaram 139 estudos experimentais que indicam “pouco apoio” para a hipótese de aversão à consanguinidade em 88 espécies de animais.

Para a etóloga Raïssa de Boer, co-autora do estudo, “a teoria evolucionária nos diz que os animais devem tolerar, ou mesmo preferir, acasalar com um membro da família”.

A consanguinidade teria certas vantagens. Em particular, poderia melhorar o “valor seletivo” de um indivíduo, ou seja, sua capacidade de reproduzir e obter descendência fértil – de preferência em grande número.

O incesto também aumenta o risco de desenvolver uma doença genética: dentro de uma família, dois indivíduos têm mais probabilidade de ter as mesmas deficiências genéticas. Eles são compensados por genes melhores, mas se esses indivíduos acasalarem, seus filhos podem herdar dois genes defeituosos. Não há como compensar isso.

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Consanguinidade em passeriformes é comum.

Uma população que recorre regularmente ao incesto vê o número de doentes aumentar. As chances de conceber uma prole grande e fértil são reduzidas. Mas em alguns casos, o efeito maléfico do incesto pode não ocorrer se houver um ‘expurgo’ – todos os indivíduos que receberam genes defeituosos morrem antes de se reproduzir. Gradualmente, os indivíduos que sobrevivem herdam apenas os genes bons.

“Os animais parecem não se importar se seu parceiro em potencial é um irmão, primo ou indivíduo sem parentesco ao escolher com quem acasalar”, disse Regina Vega Trejo, também etóloga e co-autora.

As pesquisadoras chegam à conclusão de que, embora possa existir um preço a pagar pela consanguinidade, nos animais isso pode não ser pesado o suficiente para criar uma pressão seletiva que supera outros aspectos da escolha do parceiro. A pressão para evitar parentes é provavelmente mais fraca em animais onde as populações são grandes e bem misturadas.

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